sexta-feira, dezembro 28, 2007

centelha humana

"É preciso procurar a centelha humana mesmo nas personagens mais perversas. É preciso salvá-las."

Elia Kazan

I don't know what I can save you from.

You called me after midnight,
it must have been three years since we last spoke.
I slowly tried to bring back,
the image of your face from the memories so old.
I tried so hard to follow,
but didn't catch a half of what had gone wrong,
said "I don't know what I can save you from."

I don't know what I can save you from.

I asked you to come over,
and within half an hour,
you were at my door.
I had never really known you,
but I realized that the one you were before,
had changed into somebody for whom
I wouldn't mind to put the kettle on.
Still I don't know what I can save you from.

I don't know what I can save you from.

Kings Of Convenience

terça-feira, dezembro 25, 2007

em silêncio

Alguém com quem consegues estar oito horas seguidas a falar deve ser uma pessoa fixe. Mas alguém com quem consegues estar oito horas seguidas em silêncio e não haver desconforto nenhum... isso é muito mais.

quarta-feira, dezembro 12, 2007

inabitável

"Começava a compreender que nada é mais inabitável do que um lugar onde se foi feliz."

Cesare Pavese

domingo, dezembro 02, 2007

existência

se há uma prova da existência de deus, é que ainda são poucos aqueles que de repente descobrem falhas existenciais e resolvem pegar numa arma e disparar ao calhas, como que se isso silenciasse o barulho de dentro das suas cabeças...
a letargia colectiva ainda é a maior responsável pela existência humana... e tal só pode ser atribuído a uma força sobre-humana: deus, ou a estupidez... vai tudo dar ao mesmo.

sexta-feira, novembro 02, 2007

désert

Oh mon amour, mon âme soeur
Je compte les jours je compte les heures
Je voudrais te dessiner dans un désert
Le désert de mon coeur

Oh mon amour, ton grain de voix
Fait mon bonheur à chaque pas
Laisse-moi te dessiner dans un désert
Le désert de mon coeur

Dans la nuit parfois, le nez à la fenêtre
Je t'attends et je sombre
Dans un désert, dans mon désert, voilà

Oh mon amour, mon coeur est lourd
Je compte les heures je compte les jours
Je voudrais te dessiner dans un désert
Le désert de mon coeur

Oh mon amour, je passe mon tour
J'ai déserté les alentours Je te quitte, voilà c'est tout
Dans la nuit parfois, le nez à la fenêtre
J'attendais et je sombre Jetez au vent mes tristes cendres, voilà

Emilie Simon

Oh o meu amor, a minha alma-gêmea
Eu conto os dias conto as horas
Eu quero desenhá-lo num deserto
O deserto do meu coração

Oh o meu amor, o teu tom de voz
Faz a minha felicidade à cada passo
Deixe-me de desenhá-lo num deserto
O deserto do meu coração

Na noite às vezes, parada na janela
Eu espero e naufrago
Num deserto, o meu deserto, aí está

Oh o meu amor, o meu coração é pesado
Eu conto as horas, eu conto os dias
Eu quero desenhá-lo num deserto
O deserto do meu coração

Oh o meu amor, passo a minha volta
Eu abandonei os arredores
Eu deixo-o, aí está é tudo

Na noite às vezes, parada na janela
Eu esperarei e naufrago
Lanço ao vento as minhas tristes cinzas, aí está

quarta-feira, outubro 31, 2007

vampirizar por aí

acho que entendi finalmente o que é um vampiro.
Alguém que tenta sobreviver... da maneira mais díficil, a vampirizar por aí.
...um morto-vivo.

terça-feira, outubro 30, 2007

"volVidas"

sem dúvida que o blogue está a ficar muito visitado, ou re-visitado. E não é só o blogue. Há coisas que insistem em "volver". Se bem que eu não tenho feito nada para isso. Há mais caminho pela frente para se ficar a olhar para trás. Quem quer caminhar comigo é benvindo. Quem quiser ficar, não será esquecido: vai no meu coração.

segunda-feira, outubro 29, 2007

ressabiada

a melhor do dia:


ressabiada?

quem? eu?!!

não! ela!

porquê? com quem?

comigo?!?!


alguém consegue explicar-me? provavelmente nem ela... mas também já é normal.

sexta-feira, outubro 19, 2007

círculo

os desígnios do Senhor são insondáveis ...

nunca sabemos bem quem é que vai estar por detrás da próxima porta, pois não? mas há mais lugares comuns que originalidades. ha vida cá em baixo é uma enorme esfera... ou será um círculo?

quinta-feira, outubro 18, 2007

casa


a minha casa é um sorriso
:)




quarta-feira, outubro 17, 2007

enganos

como se engana alguém?
com a verdade, naturalmente.

fazendo acreditar que muitos são só um, e que um são muitos.

quem aqui lê, sabe.
quem aqui lê, se engana.

terça-feira, outubro 16, 2007

mudanças

mais mudanças, mais caixas de cartão... maiores, menores. Mais bonitas ou mais feias, mas cheias. Cheias de tralhas, risos e choros, comédias e tragédias,... estórias e memórias... tretas.

o que somos nunca muda, mas quem somos está em constante mudança... quer o queiramos, quer não.

domingo, setembro 23, 2007

quixotescas

É uma espécie de redenção. Ou será antes rendição?
Um armistício assinado apenas pelo cansaço inerente a uma constante guerra. Essa mesma demanda quixotesca que insiste em escolher esses gigantescos moinhos, como alvos dantescos a derrotar.
Há derrota… derrota pelo cansaço, pelas desaventuranças repetidas, pelas quimeras eternas.
Há paz na rendição. Ou será redenção? A paz da consciência de quem se bateu, de quem foi até então honesto, de quem não mais tem para dar.

Porque pedir a lua, se podemos ter as estrelas?

quinta-feira, setembro 13, 2007

ser

Não sou o que queria ser.
Sou o que me fizeram.

quarta-feira, agosto 15, 2007

cinco de espadas


Não te re-inventes vezes demais.
Às tantas, ficas sem saber quem realmente és.

quinta-feira, agosto 09, 2007

quase nada, quase tudo

...mas, derrota?
Sim... mas não há derrotas, ou pelo menos não se perde... deixa-se é de ganhar. Mas deixar de ganhar não é perder.
Até se pode ser derrotado... por não alcançar os objectivos propostos, por investir a mais e ter de menos, um quase tudo por quase nada. Mas perder... só se quisermos.
Devemos sempre ganhar algo, trazer sempre um espólio... mesmo os derrotados. Aprender uma lição, ganhar experiencia, conhecer novas coisas.
Perder só perde quem quer... pois é só querer e ganhamos sempre, nem que seja apenas um pouco, quase nada. Um quase nada que pode ser quase tudo.

domingo, julho 29, 2007

preciso de ti

ora toca lá a reciclar material:

Talvez fosse da hora... assim de manhazinha, acabado de acordar. Ainda não tinha bem assentes as ideias, e depois é isto... acabamos a falar com o coração. Talvez de manhã sejamos mais sinceros. Talvez ainda não estejamos preparados para nos dissimularmos, para mentirmos. Estamos desprotegidos, expostos, nús.
Não interessa agora porque... Está dito, está dito. As palavras não vão ser retirados. Não dá para apagar o que disse.
Preciso de ti.
Não disseste nada.
Certamente sorriste (sorriste como só tu sabes) e não disseste nada.
Mas que terás pensado.
Terei sido patético e frágil? Não sei. Só sei que preciso de ti.

emalgumoutrolugar.blogspot.com julho o4, 2006

nota póstuma: há história e pré-história. há blogues e pré-blogues. e há pré-fins de mundo... até ao dia que este barco fantasma mude de nome e o seu roteiro também. há vida para além disto... há sempre vida, lá mais além.

sexta-feira, julho 27, 2007

doença

frio na barriga?
coração acelerado?
pernas a fraquejar?

Ora cá está... muito bem visto.

Da próxima vez que sentir estes sintomas vou directo a correr para o médico mais próximo.

Só pode ser doença. De certeza que é um mal qualquer.

quinta-feira, julho 26, 2007

ver ou não ver...

"As pessoas vêem aquilo que estão preparadas para ver."



R.W. Emerson

sexta-feira, julho 20, 2007

ambiguidades (saber partir mas não esquecer)

não me parece de modo algum que as ambiguidades de um Homem sejam um defeito ou falta de carácter...
As ambiguidades são riquezas, são as marcas de um Homem.

Mais que tudo, a medida de tudo mais que os gestos, é o reconhecer do gestos, é entender-se como um todo e não se renegar parte alguma, boa ou má.
Um fim não é necessáriamente uma ruptura... é só isso mesmo um fim. O capitulo acaba, a história continua.

Há que saber partir mas também não esquecer o(s) que fica(m) para trás.

segunda-feira, julho 16, 2007

promontório

Num promontório no extremo existe um estranho monumento com um mais estranho epitáfio.

Escuto os mortos com os meus olhos. Dizem-me que aqui já nada têm e do que mais se queixam é da falta do tempo.
Para eles o relógio parou. Não passa mais água debaixo da ponte. O mundo não gira.
Tempus fugit
Do Tártaro intemporal e eterno, as suas palavras ecoam como ameaça velada e aviso

Nós vamos sempre a tempo. Ainda temos tempo. Ainda…


“... a morte é a solução, mas não morras ainda, espera outro dia, um golpe de sorte, uma cara nova, um novo amigo, milhões de oportunidades, ainda és muito jovem, não morras ainda, espera outro dia, um golpe de sorte, vai fodendo...”
Henry Miller, “Trópico de Capricórnio”

domingo, julho 15, 2007

Contra vim...

Contra vim mortisnon est medicamen in hortis

Para tudo há remédio, menos para a morte

sábado, julho 14, 2007

é tão fundo o silêncio

É tão fundo o silêncio entre as estrelas.

Nem o som da palavra se propaga,

Nem o canto das aves milagrosas.

Mas lá, entre as estrelas, onde somos

Um astro recriado, é que se ouve

O íntimo rumor que abre as rosas.



José Saramago

sábado, junho 30, 2007

quando

quando para eu perceber, precisar de ouvir...

quando para me fazer entender, precisar de falar...

quando para respirar precisar de pensar...

então o meu coração terá parado e eu não serei mais eu... pelo menos como me conheço.

sexta-feira, junho 29, 2007

as frágeis hastes

Não voltari à fonte dos teu flancos;
ao fogo espesso do Verão
a escorregar infatigável
dos espelhos, não voltarei.

Não voltarei ao leito breve
onde quebramos uma a uma
todas as frágeis
hastes do amor.

Eis o Outono: cresce a prumo.
Anoitecidas águas
em febre, em fúria, em fogo,
arrastam-me para o fundo.

Eugénio de Andrade

segunda-feira, junho 25, 2007

no teu poema

No teu poema
existe um verso em branco e sem medida,
um corpo que respira, um céu aberto,
janela debruçada para a vida.

No teu poema
existe a dor calada lá no fundo,
o passo da coragem em casa escura
e, aberta, uma varanda para o mundo.

Existe a noite,
o riso e a voz refeita à luz do dia,
a festa da Senhora da Agonia
e o cansaço
do corpo que adormece em cama fria.
Existe um rio,
a sina de quem nasce fraco ou forte,
o risco, a raiva e a luta de quem cai
ou que resiste,
que vence ou adormece antes da morte.

No teu poema
existe o grito e o eco da metralha,
a dor que sei de cor mas não recito
e os sonhos inquietos de quem falha.

No teu poema
existe um cantochão alentejano,
a rua e o pregão de uma varina
e um barco assoprado a todo o pano.
Existe um rio
a sina de quem nasce fraco ou forte,
o risco, a raiva e a luta de quem cai
ou que resiste,
que vence ou adormece antes da morte.

No teu poema
existe a esperança acesa atrás do muro,
existe tudo o mais que ainda escapa
e um verso em branco à espera de futuro.

José Luís Tinoco

pedras, calhaus e enfins...

F***-se!!!! Um gajo anda sempre a tropeçar nas pedras que enconta no caminho. Depois ainda há idiotas que dizem que vão fazer um castelo com elas. Pois bem... eu vou mas é atirá-las a algumas cabeças.

sábado, junho 23, 2007

não te quero senão porque te quero

Não te quero senão porque te quero,
e de querer-te a não te querer chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.
Quer-te só porque a ti te quero,
Odeio.te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te,
como um cego.

Tal vez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,
nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor,
a sangue e fogo.

Pablo Neruda

sexta-feira, junho 22, 2007

bilhete

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

Mario Quintana

Mário Quintana
http://marioquintana.blogspot.com/

terça-feira, junho 19, 2007

há palavras que nos beijam

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

Alexandre O'Neill

arco-íris

Para os Incas, o arco-íris é nefasto. É uma serpente celeste. Recolhida pelos homens quando ainda era apenas um verme, à força de crescer muito adquiriu proporções gigantescas. Os homens sentiram-se obrigados a mata-la porque ela exigia corações humanos para a sua alimentação. Os passáros mergulharam no seu sangue e a sua plumagem ficou tingida com as cores do arco-íris.

sexta-feira, junho 08, 2007

escorpião

Eu não sou um espírito dos elementos, de modo algum eu sou um demónio. Sou o animal fatal para aquele que lhe toca. Tenho dois cornos e uma cauda que retorço no ar. Os meus cornos chamam-se, um deles, a violência, e o outro, o ódio. O estilete da minha caud chama-se buril da vingança. Só trago ao mundo uma vez: a concepção que é, para os outros, sinal de crescimento, para mim é sinal de morte próxima.

lenda do Mali

domingo, junho 03, 2007

lágrima



lágrima é dor em estado líquido.
A condensação da tristeza na fria realidade

domingo, maio 20, 2007

no hard feelings...

No hard feelings... true? A sério? Sem ressentimentos? Sem sentimentos duros, como dizem os súbditos de sua majestade? Ou será sentimentos fortes? Mas... sentimentos sem serem fortes... serão de facto sentimentos (a sério)?
Sente-se intensamente, à flor da pele, somente desta maneira. Entrega de corpo e alma...
Sentimentos intensos, emoções intensas... muitas... fortes... duras... whatever.

Por isso: No hard feelings? I don´t believe it so!

quinta-feira, maio 10, 2007

mau amor

Com o ódio é muito fácil de lidar... todos , melhor ou pior, sabemos lidar. Dificil é de lidar com o amor, principalmente com o mau amor.

postfácio, prefácio, corpo do texto

Postfácio:
aquilo que sucede ao fim de facto e fica antes do fim de princípio.

Prefácio:
aquilo que existe antes de tudo; declaração de princípio, ambições, (des)ilusões.

O que conta de facto é o corpo do texto, corpo cadáver

terça-feira, maio 01, 2007

Morpheu

Nem nos domínios de Morpheu encontro a tranquilidade. Até nesses vales profunods vêm as Erínias em minha procura, em meu tormento, numa fúria de loucura.
Há paz? E se não há paz, há ao menos guerra? Mas contra quem?
Derrota... apenas derrota, pelo menos a julgar pelo deslumbre dos estandartes caídos... Vitória? Ninguém! Ou pelo menos houve quem menos perdeu. Houve quem se libertou de grilhetas. Mas também houve quem caiu num vale de silêncio... num isolamento amârgo, no meio das gentes.

sábado, abril 28, 2007

ama(r)go

Ama(r)go
Que pode alguém dizer quando o seu cerne do seu ser está corroído pela suspeita?

terça-feira, abril 24, 2007

finis gloriae mundi

tudo é perene... tudo é mortal... tudo é pó

...e no entanto há coisas eternas...

(como isto que trago cá dentro)

não vem nos livros

Não… o assunto não vem nos livros… pelos menos nos de instruções. E por muita experiência que tenhamos, cada caso é sempre um caso diferente.
Resolver cada um à sua maneira e nenhum deles é fácil… nunca é fácil.

segunda-feira, abril 23, 2007

guerra

vou comprar uma arma e começar uma guerra.


diz-me só a causa por qual lutar...

sábado, abril 21, 2007

por um golpe de sorte

“... a morte é a solução, mas não morras ainda, espera outro dia, um golpe de sorte, uma cara nova, um novo amigo, milhões de oportunidades, ainda és muito jovem, não morras ainda, espera outro dia, um golpe de sorte, vai fodendo...”

Henry Miller, “Trópico de Capricórnio”

sexta-feira, abril 20, 2007

dependência

“Gostaria de penetrar os seus segredos, gostaria que se me dirigisse e dissesse: “Bem sabes que te amo”, mas se tal loucura é irrealizável, então... que desejar? Será que sei o que desejo?
Estou como que perdido; o que quero é ficar ao pé dela, na sua auréola, na sua irradiação, para sempre, durante toda a vida. Nada mais sei! Será que posso afastar-me dela?

Fidor Dostoievsky, “O Jogador”

quinta-feira, abril 19, 2007

despertares

Sofro da síndroma dos mutilados de guerra que ainda sentem as dores de um membro que já não têm. Dores reflexas de membros fantasmas. São coisas da guerra, são coisas da vida.
Acordo violentamente de madrugada mergulhado em suores frios e dores, aos berros, histérico, cheio de pavor. Sonho que me amputaram os braços. Sonho que te levaram de mim, que não estás aqui ao meu regaço.
A enfermeira acode de pronto. Vem em meu socorro, tranquiliza-me. Dá-me 70 miligramas de morfina e eu repouso, volto ao meu sono branco, até tornar a acordar. Até voltar a acordar.

ideias

Se calhar “Mas a grande pergunta a fazer é, evidentemente: Quando amamos alguém, ou melhor, nos apaixonamos por alguém, porque é que nos apaixonamos verdadeiramente? É uma ideia da pessoa amada, ou é a pessoa propriamente?
Talvez sejamos capazes de viver com as nossas ideias. Talvez sejam sempre as nossas ideias que amamos.”

Lars Gustafson, “A morte de um Apicultor

ama-me!

Ama-me!
Peço-te que me ames.
Porque?
Porque te amo.
Não é razão que chegue?
Que razão tão estúpida e que razão tão forte, mas como se a razão aqui fosse chamada.
O que me interessa é que te amo contra toda a razão.
E não me interessa o que possas dizer. Só me interessa o que dizes se disseres que me amas. E nem pergunto porque, porque eu não sei nem interessa, desde que me ames.

9807280249*0408072344

natalEros

“Como nasce o amor?
Talvez de uma súbita falha do universo, talvez de um erro, nunca de um acto de vontade.”

Marguerite Duras

talvez

Talvez não custe morrer, custa é ter vivido.
Talvez não custe não ver, custa é ter visto.
Talvez não custe sofrer, custa é ter beijado.
Talvez...
Talvez a razão seja uma ilusão ou um desengano dos nossos sentimentos, ou simplesmente a própria quimera. A morte sabe tão bem como um sono profundo e tranquilo sem sonhos nem pesadelos.
Talvez não custe perder, custa é ter amado.

quarta-feira, abril 18, 2007

assuntos cardíacos

“… em assuntos do coração e do sentir sempre o demasiado foi melhor que o diminuído…”

José Saramago, “A Caverna

fingidores

“Os homens são assim, fingidos de força, porque têm medo.”
Mia Couto, “O último voo do flamingo”

voar


se tem asas é para voar.

há que saber deixar partir.

nevoeiro

O nevoeiro ou névoa é uma nuvm cuja base está no solo ou perto dele e reduz a visibilidade a menos de 1000 metros. Pode ter origem no calor radiado durante a noite, em ar húmido que se move na horizontal e é arrefecido por baixo ou aparecer entre o ar quente e o ar frio numa frente.

O nevoeiro tolda-nos a visão

Hoje está nevoeiro. Dizem-me que está um lindo de sol. Para mim está nevoeiro. Não consigo ver muito além do meu nariz. Olho para trás e não vejo passado. Olho para a frente e não vejo futuro. Mal consigo ver o sitío onde estou. Mal consigo ver o presente.

Mais que escuro... hoje está nevoeiro.

terça-feira, abril 17, 2007

efémero e frágil

Agora, só depois de se descobrir o que já carregava dentro de mim…
É como uma borboleta que após tanto tempo nasce e morre…
Só estamos cegos ao que queremos ser alheios… até ao momento em que despertamos com a subtileza de um martelo

segunda-feira, abril 16, 2007

fantasmas

andam fantasmas e assombrações cá pela casa...
será este templo maldito? ou de que outro mal poderá ele padecer?
sombras, luzes, espirítos, memórias, errantes, deslumbres...
certo e incerto...
sinceramente? não sei...
sei que esta noite não se dorme, cá em casa.

história da minha vida

Agora em português o post anteriormente conhecido como "a story of (my) life"
Se as histórias se repetem, porque não se hão-de repetir os posts? Só mudam as personagens, os locais e às vezes as linguagens. De resto... tudo igual.


Uma mulher tem um amigo chegado. Isso significa que ele provavelmente está interessado nela e é por isso que ele se mantém tão por perto. Ela vê-o unicamente como amigo. Isto começou tudo com um: Tu és um tipo porreiro, mas não gosto de ti dessa maneira.
Isto é mais ou menos o equivalente a um tipo que vai a uma entrevista de emprego e a empresa diz: Você tem um excelente currículo, tem todas as qualificações que estamos à procura, mas não o vamos contratar. No entanto iremos usar as suas habilitações como termo de comparação para futuros candidatos. Mas vamos contratar alguém menos qualificado e que provavelmente até será alcoólico. E se ele não trabalhar bem, vamos contratar outra pessoa qualquer, mas não você. De facto, nunca o iremos contratar, mas vamos chamá-lo de vez em quando para nos queixarmos acerca da pessoa que contratamos.

domingo, abril 15, 2007

othello

Otelo, o mouro de veneza

"Onde andavas meu Otelo, que te julgava perdido?"
para meu bem espero que seja só mesmo Otelo,
que a loucura tenha o nome de Iago.
De outra forma, como matar,
ou como morrer?

sábado, abril 14, 2007

a raposa e o principezinho



“Cativar” quer dizer o que?
É uma coisa que toda a gente se esqueceu. Quer dizer criar laços
Por enquanto tu não és para mim senão um rapazinho perfeitamente igual a cem mil outros rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Mas, se tu me cativares , passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo para mim. E eu também passo a ser única no mundo para ti…
Sabes, há uma certa flor… tenho a impressão que ela me cativou…
É bem possível. Ve-se cada coisa á na Terra…
Só conhecemos o que cativamos.Se tu queres um amigo, cativa-me!
Que é preciso fazer?
É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...
(...)
Teria sido melhor voltares à mesma hora. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde às três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estaria inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.
Que é um rito?
É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas.
(…)
Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos…
Foi o tempo que perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa importante.
Ficas responsável para todo sempre por aquilo que cativaste.
adaptação do texto de Antoine de Saint-Exupéry, "O Principezinho"

guardar



…guarda-a como se de uma pomba se tratasse.
.
Guarda-a junto a ti, junto ao regaço do teu peito.
.
Mas tem cuidado...

Não a apertes demais. Sufocá-la-ias e morreria

Não a deixes demasiado livre, pois pode voar e fugir.

sexta-feira, abril 13, 2007

segunda-feira, abril 09, 2007

mãos ao ar! isto é um assalto

quinta-feira à noite… quer dizer, em bem da verdade até já era sexta-feira, porque já era uma da manha.
Depois de as deixar estavam muito preocupadas por eu me meter sozinho a pé pelas ruas do Porto.
-Palermice. Disse eu

De facto, nunca estamos realmente a salvos, nunca podemos dizer que estamos bem, mas tomadas certas precauções não há problemas de maior. Evitar os cantos escuros e de fraca visibilidade, um passo certo, rápido e decidido e em caso de dúvida nunca me aproximar ou deixar aproximar estranhos. Nunca ninguém assaltou ninguém a três metros de distância.
É certo que aprendi isso por experiência própria, ou seja da pior maneira… Mas a lição ficou aprendida.
Não podemos é exagerar na distância. Também não queremos ser uma ilha no meio do nada. Mesmo que isso signifique o risco de que nos roubem alguma coisa.

domingo, abril 08, 2007

intimidade I






















“A partilha do sono era o corpo de delito do amor

Milan Kundera“A Insustentável Leveza do Ser”

sexta-feira, abril 06, 2007

a story of (my) life

Retirado algures da net*, de um sitío dizia ser também retirado de algures da net... por isso, não sei de onde, apenas de um sítio algures na net. Sei é que não é meu, mas até que podia ser.
"A woman has a close male friend. This means that he is probably interested in her, which is why he hangs around so much. She sees him strictly as a friend. This always starts out with, you're a great guy, but I don't like you in that way. This is roughly the equivalent for the guy of going to a job interview and the company saying, You have a great resume, you have all the qualifications we are looking for, but we're not going to hire you. We will, however, use your resume as the basis for comparison for all other applicants. But, we're going to hire somebody who is far less qualified and is probably an alcoholic. And if he doesn't work out, we'll hire somebody else, but still not you. In fact, we will never hire you. But we will call you from time to time to complain about the person that we hired."
(* não vou revelar a minha fonte. é um perfil do hi5 e por isso vou manter a privacidade do mesmo.)

domingo, abril 01, 2007

dessincronizada

A vida não é anacrónica, mas parece andar cronicamente dessincronizada.
Há momentos que não acontecem quando deviam acontecer.
Há gente que chega cedo de mais à nossa vida. Há gente que chega tarde demais.
Se há um grande plano no meio deste caos todo, pelo menos em questões de tempo não deve estar muito afinado. Ou então é uma afinação desafinada.

É pena. Chegaste tarde e partes cedo. Era bom conhecer-te melhor.

sábado, março 31, 2007

a rapariga vodu

É feita de retalhos,
tem pele de algodão
e muitos alfinetes coloridos
saídos do coração.

Tem um magnífico par
de olhos em espiral
por si utilizados
para hipnotizar namorados

Tem muitos zombies diferentes
de que nunca se cansa.
Até tem um zombie
oriundo de França.

Mas sabe que não pode vencer
a sua terrível maldição,
pois se alguém se aproxima dela
perfura-lhe o coração.


Tim Burton
A morte melancólica do rapaz ostra & outras estórias
Lisboa: Antígona, Fevereiro de 2007


the melancholy death of oyster boy & other stories, 1997

a rapariga com muitos olhos


Um dia no jardim
fiquei muito espantado:
encontrei uma miúda
com olhos por todo o lado.
Era de facto encantadora (e também assustadora!);
e, porque tinha boca para falar,
pusemo-nos a conversar.
Falámos sobre flores
e das suas aulas de poesia,
e dos problemas que teria
se tivesse miopia.
É óptimo namorar
alguém que tanto nos olha,
mas se desata a chorar
apanhamos uma molha.

Tim Burton
A morte melancólica do rapaz ostra & outras estórias
Lisboa: Antígona, Fevereiro de 2007

sexta-feira, março 30, 2007

palitinho e fosforina apaixonados


Palitinho amava Fosforina
gostava muito dela.
Com a sua figura franzina,
que quente era ela.

Mas seria amor ardente
o de uma fósfora e de um palito?
Pois muito literalmente
incendiou-se o pauzito.

Tim Burton
A morte melancólica do rapaz ostra & outras estórias
Lisboa: Antígona, Fevereiro de 2007

quinta-feira, março 29, 2007

fuga na alma

As emoções extremas são sempre duvidosas já que nos confundem todas as outras...
Aquilo que tínhamos por certo de repente já não é tão certo. Um homem desesperado é certamente perigoso para os que o rodeiam, mas principalmente para si. Um homem desesperado é um homem com uma fuga na alma...

Tenho um grande homem preso numa alma medíocre...

homens... apenas homens

“Não é com seres imaginários e ideais que podemos contar”, pensava Paulo. “Devemos é certo para nos melhorarmos a nós e melhorarmos os outros. Mas todos sofremos a influência da sociedade em que vivemos e temos em consequência, num ou noutro aspecto, defeitos e grandes defeitos. Todos, todos os temos. Os melhores dos homens os têm. É com homens assim que se vive, se luta e se vence.”



“Até amanhã camaradas”, Manuel Tiago

desilusão

a propósito da conversa de café da noite passada:

Ao fim ao cabo todas as pessoas acabam por nos desiludir. E se não nos desiludem é porque a vida nos foi curta. É tudo uma questão de tempo.
No entanto a verdadeira questão aqui é: o que sentimos por essa pessoa é superior ou inferior à desilusão?

terça-feira, março 20, 2007

felicidade

que fazes?

- naturalmente... "em busca da felicidade!"

domingo, março 18, 2007

verdades (?)

Se me disseres que sim... já não não acredito.
Aprendi a confiar pouco no sentido das palavras... principlamente na verdade.

farsa

mentiras...
dissimulações...
engodos...
farsas...
supresas...
...é tudo que se deve/pode esperar de mim.

E então?
Se aviso... porquê as reclamções e os protestos?
Porque os espantos? E que mais?
Não sei, não quero saber.

E sabes que mais? Também não...

quarta-feira, março 07, 2007

redemptione

"O Jardim do paraíso está a arder, e do céu chove gasolina!"

E vá-se lá saber. Anda um homem à procura de redenção e ainda encontra mais um par de chapadas.
Nunca esperes nada... nunca saberás o que encontras.

terça-feira, março 06, 2007

Sl 23, 4

XIII
























"Quando abriu o quarto selo, ouvi a voz do quarto vivente dizer: "vem". Olhei e vi um cavalo esverdeado; e o que o montava tinha por nome Peste; seguia-o Hades. Foi-lhe dado poder sobre a quarta parte da terra, para a fazer perecer, pela fome, pela peste e pelas feras da terra." AP 6,7-8





erradamente conhecida como morte
a carta XIII
o arcano sem nome
renovação

segunda-feira, março 05, 2007

a história da vida de um homem

A história da vida de um homem só pode ser de uma maneira: como ele a recorda e a conta, e não da forma como ele realmente a viveu. O máximo que pode acontecer é ninguém gostar da história.
Mas isso efectivamente só seria problema se ele a contasse de uma forma diferente daquela que recorda para si próprio. Seria como se ele quisesse enganar os outros sem se enganar a ele próprio primeiro.
Não há verdades absolutas. Há muitas. E todas elas relativas, diferentes, opostas, mas concordantes. São como peças de vestuário, destinadas a diferentes pessoas, diferentes idades, estaturas, fisionomias, humores. Há de tudo na loja das verdades como há no pronto-a-vestir.
Portanto, a história da vida de um homem só pode ser a sua verdade, nunca a dos outros. Se ele gostar dela tanto melhor. Se não gostar, azar. Foi a verdade que ele escolheu ou então não teve nem arte nem engenho para se enganar a si próprio.
E se não nos enganarmos, já se sabe que dificilmente havemos de ser felizes.

o outro lado do espelho

-Que vês do outro lado do espelho, Alice? – perguntou a lebre.
-Vejo alguém parecido comigo, mas em tantas coisas diferentes, pois eu não sou assim.
Fisicamente é mesmo muito parecida comigo, podia mesmo ser minha irmã, ainda que eu seja mais bela. Mas em tudo o resto ela é diferente… como se um reflexo fosse isso mesmo, o oposto.
-Tens a certeza de se tratar de um espelho e não de outra rapariga? Há muitos tipos de espelhos neste mundo. Raramente gostamos do que vemos neles. Normalmente encontramos neles pessoas que não conhecemos. Provavelmente, quase de certeza, é problema dos fabricantes de espelhos. Já não há artífices de jeito. Fazem os espelhos e metem lá dentro todo o tipo de pessoas e figuras, mas quase sempre aberrações, caricaturas de pessoas reais. Não podemos confiar nesse tipo de espelhos.
-Mas lebre… os espelhos são feitos com pessoas? – pergunta Alce visivelmente admirada.
-São sim, minha cara Alice. Os espelhos são basicamente pessoas. Pessoas a reflectirem sobre outras pessoas. E há muitos tipos de espelhos… tantos como os tipos de pessoas.

domingo, fevereiro 11, 2007

malinconia


tudo... ou nada

“De facto provavelmente preferia anular-me a baixar demasiado o padrão das minhas expectativas. Não vale qualquer coisa só por ser qualquer coisa. Não é só ser para se ser. É preciso ser-se, mas de alma, ou então não se ser de todo.”
Basicamente é isto, e é de facto muito difícil, porventura impossível, ambicionar por menos do que o que já se teve, ainda que tenha sido pouco, ou um quase nada, mas mais que tudo o resto. Mesmo que não tenha sido de facto nada, tão-somente um deslumbramento, uma quimera ou algo por aí aparentado. Mesmo que tenha sido apenas isso, nunca menos. Mais vale o silêncio, o vazio do que um reles simulacro, sucedâneo de um desejo, duma ânsia. Não é ter por ter, não é ser por ser. É ter por ser, ser por ter, esse limbo onde tudo começa e acaba, esse espaço sem tempo por onde cessamos sempre por recolher, essa verdade indesmentível.

Loucos e Santos

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

segunda-feira, janeiro 29, 2007

onde estás?

Onde estás?
Não te sinto,
Não te vejo.
Onde estás?
Não te sinto,
Não te ouço.
Sei apenas
Que te desejo.
Mais um pouco,
Mais um pouco.
Faz-me sentir feliz,
Outra vez,
Mais uma vez.
Faz-me sentir feliz,
Mais um pouco,
Como louco.
Faz-me surdo,
Faz-me mudo,
Mas faz-me sentir feliz.
Faz-me cego,
Faz-me louco,
Tudo isso é tão pouco,
Pois não posso viver sem ti.


Também muito antiguinho, outro de 1996, e se foi publicado neste dia, não o foi por acaso. Um doce a quem relacionar a data com o texto.

domingo, janeiro 28, 2007

o gigante e o anjo: mitomania

E, o anjo, assim persuadido sentou-se para ouvir as palavras daquele gigante.
Este, logo que se apercebeu de ter captado a atenção do anjo, tossiu levemente como que a aclarar a voz, e iniciou o seu discurso de forma eloquente e concisa, convicto da sua razão, a verdade maior e mais inabalável deste mundo e do outro.


"O amor é um mito. Um belo mito porventura, mas um mito, uma daquelas historietas que se contam para enganar aqueles que trazem o desejo do engano no âmago do seu ser, um cântico de sereia para aqueles que o buscam ouvir.
O amor perfeito, esse então é a sublimação do amor, a utopia maior como se já não estivesse na sua semente a génese da ilusão.
Somos Homens. Possuímos corpos imperfeitos que vivem num mundo imperfeito. Como podemos porventura ambicionar vislumbres da perfeição ou mesmo de algo tão grandioso como o amor da forma que este é cantado pelos poetas?
Desiludam-se. Tivéssemos a sorte de porventura atingir momentaneamente esse deslumbramento e porventura viveríamos o resto das nossas simples vidas presos a esse passado, a essa suprema verdade, e porventura viveríamos tristes, melancólicos, nostálgicos da perfeição que outrora logramos, ainda que apenas fugazmente, alcançar.
Não se enganem. Vivemos paixão, volúpia e outros que tais. Entregamo-nos às preces de nosso corpo e nossa alma. Satisfazemos a nossa fome e a nossa sede. Encontramos abrigo e alento no regaço de alguém. Traímos desavergonhadamente a nossa perfeita -ou será imperfeita? - unidade e cobardemente procurámos a ajuda de alguém como se não fossemos suficientemente fortes para nos aguentarmos sozinhos.
Mas isso passa. Toda a gente sabe que passa. E se não passa é porque estás doente. Tira já isso da cabeça, nem que para tal seja necessário abrir-ta a meio e arrancar a ferros esse mal que te aflige.
Talvez sejas afinal um daqueles tristes tolos de que falei há pouco. Sabes, quando a luz é tanta os olhos cegam. É mesmo assim os olhos não foram feitos para contemplar tanta luz. E as tuas asas, as tuas asas, meu caro Ícaro tem cuidado, pois essas não foram feitas para alcançarem a abóbada celeste.
Senta-te. Sossega. És Homem e por Homens foste feito. Do barro, dizem que Ele nos criou e que ao pó havemos de voltar.
Querias pois então que essa vulgares carcaças atingissem os desígnios reservados aos desuses?
Repara como é o mundo. A beleza da borboleta desperta a cobiça de toda a restante Natureza, mas porém apenas subsiste um dia. Depois ela desaparece. A perfeição neste mundo imperfeito tem um preço. A questão é se afinal estás disposto a pagar o preço daquilo que tanto buscas ou dizes buscar?
Sabes que às vezes o verdadeiro saber está em desfrutar o caminho e não em chegar ao término da nossa jornada. Não há muita gente interessada em saber a verdade embora muitos o digam que a procurem."

na ilha de Circe

No dia seguinte acordamos com o barulho das aves.
A bruma tinha-se já dissipado e já era possível deslumbrar terra firme. Aquela imagem de um porto seguro era como que uma voz de sereia e eu era Odisseu com seus homens. Mas nem eu estava agarrado ao mastro, nem meus companheiros tinham os ouvidos tapados.
Acorremos o mais rápido que nos era permitido aos nossos humanos corpos e aos frágeis botes, ainda que o nosso espírito já lá estivesse chegado.
Mas se bem que chegado lá antes, de nada nos valera, porque não nos avisaram, a nós, sua parte física.
Uma vez aportados, comecei a entender a perdição de nossos espíritos.
Os homens estavam demasiado excitados para se aperceberem, mas algo naquela terra era indómita. As marcas estavam lá. Não era terra virgem. Pedaços de madeira, cinzas, destroços. Aquele seria uma ilha de Circe ou sua semelhante. Para nossa desgraça, parecera que a única terra que nos acolhia era terra de Demo. A ver vamos se não acabamos todos leitões.

orgulho


"o orgulho é desprovido de alma e, no entanto, em tudo a imita."

Agustina Bessa Luís

sábado, janeiro 27, 2007

terra à vista


Ao dia de São Tito do anno da Graça de dois mil e sete, os homens acordaram-me com boas novas. Existia sargaço nas águas que mareávamos.
O nevoeiro era no entanto ainda muito intenso e mantinha-se assim desde que cruzáramos o trópico. Assim sendo, o contacto visual não era possível, mas não devíamos estar longe de terra firme.
Os sinais repetiram-se ao longo do dia.
Por volta da hora primeiras, foi possível, por entre o cerrado nevoeiro, estabelecer contacto visual. Um breve vislumbre, mas efectivamente viu-se algo para além do grande mar aonde nos mantínhamos perdidos há meses.
Por volta da hora terceira, tornou-se a repetir essa imagem. Os homens estavam entusiasmados, mas os homens são homens, simples homens, há tempo a mais afastados de terra, sozinhos na vastidão solitária do negro mar.
Para o final da tarde, quando já mergulha o carro de Apolo no território de Hades, as silhuetas de pássaros irromperam ruidosamente sobre o céu que nos cobria as cabeças.
Efectivamente, já não podiam haver réstia de dúvidas. Para lá de toda aquela parede de nevoeiro, tinha que haver algo mais.
Certamente terra. Terra firme. Mas será terra do Senhor ou terra do Demo?

sexta-feira, janeiro 26, 2007

como é que se esquece alguém que se ama

“Quando tu sentires uma grande raiva de estar preso a alguém e desejares a toda a hora, ver-te livre da pessoa e quanto mais fazes por ver-te livre dela, mais a ela te chegas, então gostas. Mas quando só sentes uma grande paixão e não pensas noutra coisa, estás convencido que gostas, mas não gostas…”

Jorge de Sena, do livro “ Sinais de fogo “

"Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa – como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já não está lá? As pessoas têm que morrer os sítios têm de acabar, as pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar. Sim, mas como se faz? Como se esquece?

Devagar. É preciso esquecer devagar.
Se uma pessoa tenta esquecer de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixarias, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar.
A primeira parte da cura é aceitar que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos em tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor de cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguém antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na Alma.
A saudade é uma dor que só pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso primeiro aceitar, (…) esta mágoa, este moinho que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo.
É preciso aceitar o amor e a morte; a separação e a tristeza; a falta de lógica e a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados, se tivessem apenas o peso que têm em si, isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos aceitando que não têm solução.
Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa, nem remédio, nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha. Dizem-nos para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos, mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se tudo na Alma, fica tudo desarrumado.
O esquecimento não tem arte.
Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar.

Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'



quinta-feira, janeiro 25, 2007

agora falando a sério...

agora falando a sério...




"A vida é uma coisa demasiado importante para falarmos sobre ela a sério.”
Oscar Wilde

domingo, janeiro 21, 2007

fumo

depois do comentário do dream brother no post anterior, não resisti a ir buscar mais esta antiguidade

Fumo, do meu cigarro
num cinzeiro
ali parado,
junto à garrafa
da cerveja morta
ali ao lado.
E uma borboleta azul
passeia no ar,
viciado,
pousando depois
num velho jornal
do mês passado.
E o fumo no ar
faz-me lembrar
um sonho cinzento,
com as janelas fechadas,
estações de comboios
e um trem barulhento,
que se mantêm parado,
prestes a partir
a qualquer momento,
sempre de fumo no ar
e vazio no olhar

demonstrando esquecimento
do passageiro na gare
virado para o mar
de fumo cinzento.


28091996

sábado, janeiro 20, 2007

doces murmúrios

revirando o baú de velharias, esta já tem mais de uma década.

A cidade não amanhece,
mantém-se e escura,
na tranquilidade matinal
da noite fria e pura.

O trânsito não começa,
a noite não termina,
os turnos não se rendem,
mantém-se a neblina.

As estrelas não se deitam,
o sol não desperta,
o povo não enfrenta
o ar da manhã aberta.

Os jornais não estão à venda,
a manhã não se levanta,
os barcos estão no cais,
o dia já não encanta.

Tudo se mantém escuro,
não tem sentido a hora,
e tu com doces murmúrios
pedes-me que não vá embor
a.

29091996

... e no entanto ela pula e gira.

ilusionista

Luz e sombras, fumo e espelhos.
Arte da ilusão.
O que se vê não é o que realmente parece.

É este o ofício de um ilusionista, simular ser o que parece. Criar magia, ilusão, fazer crer aos outros que realmente é possível, ainda que do lado de cá se saibam aonde estão os fios, os truques, as aldrabices, as mentiras…
É ser dissimulado, aldrabão, mentiroso e no entanto ser honesto, consigo próprio, com os seus propósitos, com os outros. Mentir, sabendo-se que se espera é uma mentira, mas aquela mentira em que queremos acreditar.
Vendedor de intrujices, sem no entanto ser intrujão. A única mentira de um ilusionista é não criar a ilusão. É falhar, mostrar as cartas, os espelhos, ser descuidado. É falhar perante os outros, mostrar que a ilusão é mentira, que não existe magia.

Mas afinal… será que o que parece, efectivamente o é? Ou será apenas uma ilusão, do maior dos ilusionistas?


Houdini ilusão ilusionismo

cassandra

Do alto do seu pódio de loucura, erguida pelo desdém dos homens, Cassandra deslumbra as tormentas que se aproximam, mas insistem teimosamente em não ouvirem as suas palavras.















Cassandra Guerra de Troia Troia Troianas

quarta-feira, janeiro 17, 2007

danos viscerais II

> taquicardia

Sou apenas um ser humano, igual a qualquer outro.
Com um simples coração igual a tantos outros, com dois ventrículos e duas aurículas.
Na realidade é um músculo, constituído por fibras musculares, que contraem e dilatam, que às vezes aumenta de tamanho e que noutras diminui, consoante a sua necessidade.
De vez em quando bate depressa.


Os médicos chamam-lhe taquicardia, os poetas chamam-lhe paixão.

danos viscerais I

> tripas & coração

Definitivamente estou apaixonado. Sinto-o no âmago do meu estômago. Sim, no meu estômago! Este estômago que tem um nó e sofre de amor.
E depois? Por acaso não pode o estômago sentir o que é o amor?
Não há quem ame com o coração? E não há quem faça das tripas coração? Então qual é a diferença se amo com o bucho, a figadeira ou os rins? Poderá ser assim tão diferente uma taquicardia de uma úlcera no estômago?
Eu sei o que sinto e sei o que é amor. É isto que sinto e me diz o meu estômago.

domingo, janeiro 14, 2007

mar de chamas

O jardim do paraíso está a arder, e do céu chove gasolina.

Uma mancha negra sobrevoa os céus.
Um pássaro. Um pássaro negro voa em círculos. Confuso. Aflito. Desnorteado.
Procura poiso. Terra firme.
No entanto, em seu redor é todo chamas… Até à linha do horizonte não vislumbra mais do que esse fogo que tudo consome e tudo destrói no seu caminho.
Cada aproximação, cada tentativa de porto seguro, mais não vale que umas penas chamuscadas e um pouco de fuligem.
Resta o céu… somente esse enorme e solitário céu… ou a imolação no fogo.