sábado, junho 30, 2007

quando

quando para eu perceber, precisar de ouvir...

quando para me fazer entender, precisar de falar...

quando para respirar precisar de pensar...

então o meu coração terá parado e eu não serei mais eu... pelo menos como me conheço.

sexta-feira, junho 29, 2007

as frágeis hastes

Não voltari à fonte dos teu flancos;
ao fogo espesso do Verão
a escorregar infatigável
dos espelhos, não voltarei.

Não voltarei ao leito breve
onde quebramos uma a uma
todas as frágeis
hastes do amor.

Eis o Outono: cresce a prumo.
Anoitecidas águas
em febre, em fúria, em fogo,
arrastam-me para o fundo.

Eugénio de Andrade

segunda-feira, junho 25, 2007

no teu poema

No teu poema
existe um verso em branco e sem medida,
um corpo que respira, um céu aberto,
janela debruçada para a vida.

No teu poema
existe a dor calada lá no fundo,
o passo da coragem em casa escura
e, aberta, uma varanda para o mundo.

Existe a noite,
o riso e a voz refeita à luz do dia,
a festa da Senhora da Agonia
e o cansaço
do corpo que adormece em cama fria.
Existe um rio,
a sina de quem nasce fraco ou forte,
o risco, a raiva e a luta de quem cai
ou que resiste,
que vence ou adormece antes da morte.

No teu poema
existe o grito e o eco da metralha,
a dor que sei de cor mas não recito
e os sonhos inquietos de quem falha.

No teu poema
existe um cantochão alentejano,
a rua e o pregão de uma varina
e um barco assoprado a todo o pano.
Existe um rio
a sina de quem nasce fraco ou forte,
o risco, a raiva e a luta de quem cai
ou que resiste,
que vence ou adormece antes da morte.

No teu poema
existe a esperança acesa atrás do muro,
existe tudo o mais que ainda escapa
e um verso em branco à espera de futuro.

José Luís Tinoco

pedras, calhaus e enfins...

F***-se!!!! Um gajo anda sempre a tropeçar nas pedras que enconta no caminho. Depois ainda há idiotas que dizem que vão fazer um castelo com elas. Pois bem... eu vou mas é atirá-las a algumas cabeças.

sábado, junho 23, 2007

não te quero senão porque te quero

Não te quero senão porque te quero,
e de querer-te a não te querer chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.
Quer-te só porque a ti te quero,
Odeio.te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te,
como um cego.

Tal vez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,
nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor,
a sangue e fogo.

Pablo Neruda

sexta-feira, junho 22, 2007

bilhete

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

Mario Quintana

Mário Quintana
http://marioquintana.blogspot.com/

terça-feira, junho 19, 2007

há palavras que nos beijam

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

Alexandre O'Neill

arco-íris

Para os Incas, o arco-íris é nefasto. É uma serpente celeste. Recolhida pelos homens quando ainda era apenas um verme, à força de crescer muito adquiriu proporções gigantescas. Os homens sentiram-se obrigados a mata-la porque ela exigia corações humanos para a sua alimentação. Os passáros mergulharam no seu sangue e a sua plumagem ficou tingida com as cores do arco-íris.

sexta-feira, junho 08, 2007

escorpião

Eu não sou um espírito dos elementos, de modo algum eu sou um demónio. Sou o animal fatal para aquele que lhe toca. Tenho dois cornos e uma cauda que retorço no ar. Os meus cornos chamam-se, um deles, a violência, e o outro, o ódio. O estilete da minha caud chama-se buril da vingança. Só trago ao mundo uma vez: a concepção que é, para os outros, sinal de crescimento, para mim é sinal de morte próxima.

lenda do Mali

domingo, junho 03, 2007

lágrima



lágrima é dor em estado líquido.
A condensação da tristeza na fria realidade