domingo, fevereiro 11, 2007

malinconia


tudo... ou nada

“De facto provavelmente preferia anular-me a baixar demasiado o padrão das minhas expectativas. Não vale qualquer coisa só por ser qualquer coisa. Não é só ser para se ser. É preciso ser-se, mas de alma, ou então não se ser de todo.”
Basicamente é isto, e é de facto muito difícil, porventura impossível, ambicionar por menos do que o que já se teve, ainda que tenha sido pouco, ou um quase nada, mas mais que tudo o resto. Mesmo que não tenha sido de facto nada, tão-somente um deslumbramento, uma quimera ou algo por aí aparentado. Mesmo que tenha sido apenas isso, nunca menos. Mais vale o silêncio, o vazio do que um reles simulacro, sucedâneo de um desejo, duma ânsia. Não é ter por ter, não é ser por ser. É ter por ser, ser por ter, esse limbo onde tudo começa e acaba, esse espaço sem tempo por onde cessamos sempre por recolher, essa verdade indesmentível.

Loucos e Santos

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde