sábado, março 31, 2007

a rapariga vodu

É feita de retalhos,
tem pele de algodão
e muitos alfinetes coloridos
saídos do coração.

Tem um magnífico par
de olhos em espiral
por si utilizados
para hipnotizar namorados

Tem muitos zombies diferentes
de que nunca se cansa.
Até tem um zombie
oriundo de França.

Mas sabe que não pode vencer
a sua terrível maldição,
pois se alguém se aproxima dela
perfura-lhe o coração.


Tim Burton
A morte melancólica do rapaz ostra & outras estórias
Lisboa: Antígona, Fevereiro de 2007


the melancholy death of oyster boy & other stories, 1997

a rapariga com muitos olhos


Um dia no jardim
fiquei muito espantado:
encontrei uma miúda
com olhos por todo o lado.
Era de facto encantadora (e também assustadora!);
e, porque tinha boca para falar,
pusemo-nos a conversar.
Falámos sobre flores
e das suas aulas de poesia,
e dos problemas que teria
se tivesse miopia.
É óptimo namorar
alguém que tanto nos olha,
mas se desata a chorar
apanhamos uma molha.

Tim Burton
A morte melancólica do rapaz ostra & outras estórias
Lisboa: Antígona, Fevereiro de 2007

sexta-feira, março 30, 2007

palitinho e fosforina apaixonados


Palitinho amava Fosforina
gostava muito dela.
Com a sua figura franzina,
que quente era ela.

Mas seria amor ardente
o de uma fósfora e de um palito?
Pois muito literalmente
incendiou-se o pauzito.

Tim Burton
A morte melancólica do rapaz ostra & outras estórias
Lisboa: Antígona, Fevereiro de 2007

quinta-feira, março 29, 2007

fuga na alma

As emoções extremas são sempre duvidosas já que nos confundem todas as outras...
Aquilo que tínhamos por certo de repente já não é tão certo. Um homem desesperado é certamente perigoso para os que o rodeiam, mas principalmente para si. Um homem desesperado é um homem com uma fuga na alma...

Tenho um grande homem preso numa alma medíocre...

homens... apenas homens

“Não é com seres imaginários e ideais que podemos contar”, pensava Paulo. “Devemos é certo para nos melhorarmos a nós e melhorarmos os outros. Mas todos sofremos a influência da sociedade em que vivemos e temos em consequência, num ou noutro aspecto, defeitos e grandes defeitos. Todos, todos os temos. Os melhores dos homens os têm. É com homens assim que se vive, se luta e se vence.”



“Até amanhã camaradas”, Manuel Tiago

desilusão

a propósito da conversa de café da noite passada:

Ao fim ao cabo todas as pessoas acabam por nos desiludir. E se não nos desiludem é porque a vida nos foi curta. É tudo uma questão de tempo.
No entanto a verdadeira questão aqui é: o que sentimos por essa pessoa é superior ou inferior à desilusão?

terça-feira, março 20, 2007

felicidade

que fazes?

- naturalmente... "em busca da felicidade!"

domingo, março 18, 2007

verdades (?)

Se me disseres que sim... já não não acredito.
Aprendi a confiar pouco no sentido das palavras... principlamente na verdade.

farsa

mentiras...
dissimulações...
engodos...
farsas...
supresas...
...é tudo que se deve/pode esperar de mim.

E então?
Se aviso... porquê as reclamções e os protestos?
Porque os espantos? E que mais?
Não sei, não quero saber.

E sabes que mais? Também não...

quarta-feira, março 07, 2007

redemptione

"O Jardim do paraíso está a arder, e do céu chove gasolina!"

E vá-se lá saber. Anda um homem à procura de redenção e ainda encontra mais um par de chapadas.
Nunca esperes nada... nunca saberás o que encontras.

terça-feira, março 06, 2007

Sl 23, 4

XIII
























"Quando abriu o quarto selo, ouvi a voz do quarto vivente dizer: "vem". Olhei e vi um cavalo esverdeado; e o que o montava tinha por nome Peste; seguia-o Hades. Foi-lhe dado poder sobre a quarta parte da terra, para a fazer perecer, pela fome, pela peste e pelas feras da terra." AP 6,7-8





erradamente conhecida como morte
a carta XIII
o arcano sem nome
renovação

segunda-feira, março 05, 2007

a história da vida de um homem

A história da vida de um homem só pode ser de uma maneira: como ele a recorda e a conta, e não da forma como ele realmente a viveu. O máximo que pode acontecer é ninguém gostar da história.
Mas isso efectivamente só seria problema se ele a contasse de uma forma diferente daquela que recorda para si próprio. Seria como se ele quisesse enganar os outros sem se enganar a ele próprio primeiro.
Não há verdades absolutas. Há muitas. E todas elas relativas, diferentes, opostas, mas concordantes. São como peças de vestuário, destinadas a diferentes pessoas, diferentes idades, estaturas, fisionomias, humores. Há de tudo na loja das verdades como há no pronto-a-vestir.
Portanto, a história da vida de um homem só pode ser a sua verdade, nunca a dos outros. Se ele gostar dela tanto melhor. Se não gostar, azar. Foi a verdade que ele escolheu ou então não teve nem arte nem engenho para se enganar a si próprio.
E se não nos enganarmos, já se sabe que dificilmente havemos de ser felizes.

o outro lado do espelho

-Que vês do outro lado do espelho, Alice? – perguntou a lebre.
-Vejo alguém parecido comigo, mas em tantas coisas diferentes, pois eu não sou assim.
Fisicamente é mesmo muito parecida comigo, podia mesmo ser minha irmã, ainda que eu seja mais bela. Mas em tudo o resto ela é diferente… como se um reflexo fosse isso mesmo, o oposto.
-Tens a certeza de se tratar de um espelho e não de outra rapariga? Há muitos tipos de espelhos neste mundo. Raramente gostamos do que vemos neles. Normalmente encontramos neles pessoas que não conhecemos. Provavelmente, quase de certeza, é problema dos fabricantes de espelhos. Já não há artífices de jeito. Fazem os espelhos e metem lá dentro todo o tipo de pessoas e figuras, mas quase sempre aberrações, caricaturas de pessoas reais. Não podemos confiar nesse tipo de espelhos.
-Mas lebre… os espelhos são feitos com pessoas? – pergunta Alce visivelmente admirada.
-São sim, minha cara Alice. Os espelhos são basicamente pessoas. Pessoas a reflectirem sobre outras pessoas. E há muitos tipos de espelhos… tantos como os tipos de pessoas.