segunda-feira, junho 30, 2008

para sempre

o bom das coisas boas é que não duram para sempre.

e o das coisas más também.

sexta-feira, junho 27, 2008

guerra

Eu não quero fazer as pazes.
É pela guerra.
Só pela guerra é que nos purificamos.
Só com o sangue, vertido e escorrido dos nossos corações, lavaremos todo o sofrimento das nossas almas.
Só a dor, e nada mais que a dor, poderá arrebatar estes profundos e transtornados gritos.
Só a guerra.
Só estes nossos Armagedons privados saciam esta ânsia de não existência.

O fogo que nos possui incendiará os céus e devorará as nossas próprias sombras como se de nós próprios nos tratássemos.

Reduzidos a cinzas e pó, erguer-se-ão então as nossas essências e as nossas substâncias, sob a promessa de nunca fazermos as pazes.

quarta-feira, junho 25, 2008

precedentes

abrir presentes é bom. mas abrir precedentes também pode ser muito bom. principalmente se forem precedentes de presentes.

segunda-feira, junho 23, 2008

mitómano

O amor é um mito. Um belo mito porventura, mas um mito, uma daquelas historietas que se contam para enganar aqueles que trazem o desejo do engano no âmago do seu ser, um cântico de sereia para aqueles que o buscam ouvir.
O amor perfeito, esse então é a sublimação do amor, a utopia maior como se já não estivesse na sua semente a génese da ilusão.
Somos Homens. Possuímos corpos imperfeitos que vivem num mundo imperfeito. Como podemos porventura ambicionar vislumbres da perfeição ou mesmo de algo tão grandioso como o amor da forma que este é cantado pelos poetas?
Desiludam-se. Tivéssemos a sorte de porventura atingir momentaneamente esse deslumbramento e porventura viveríamos o resto das nossas simples vidas presos a esse passado, a essa suprema verdade, e porventura viveríamos tristes, melancólicos, nostálgicos da perfeição que outrora logramos, ainda que apenas fugazmente, alcançar.
Não se enganem. Vivemos paixão, volúpia e outros que tais. Entregamo-nos às preces de nosso corpo e nossa alma. Satisfazemos a nossa fome e a nossa sede. Encontramos abrigo e alento no regaço de alguém. Traímos desavergonhadamente a nossa perfeita -ou será imperfeita? - unidade e cobardemente procurámos a ajuda de alguém como se não fossemos suficientemente fortes para nos aguentarmos sozinhos.
Mas isso passa. Toda a gente sabe que passa. E se não passa é porque estás doente. Tira já isso da cabeça, nem que para tal seja necessário abrir-ta a meio e arrancar a ferros esse mal que te aflige.
Talvez sejas afinal um daqueles tristes tolos de que falei há pouco. Sabes, quando a luz é tanta os olhos cegam. É mesmo assim, os olhos não foram feitos para contemplar tanta luz. E as tuas asas, as tuas asas, meu caro Ícaro tem cuidado, pois essas não foram feitas para alcançarem a abóbada celeste.
Senta-te. Sossega. És homem e por homens foste feito. Do barro dizem que Ele nos criou e que ao pó havemos de voltar.
Querias pois então que essa vulgares carcaças atingissem os desígnios reservados aos desuses?
Repara como é o mundo. A beleza da borboleta desperta a cobiça de toda a restante Natureza, mas porém apenas subsiste um dia. Depois, efémera, ela desaparece. A perfeição neste mundo imperfeito tem um preço. A questão é se afinal estás disposto a pagar o preço daquilo que tanto buscas ou dizes buscar?
Sabes que às vezes o verdadeiro saber está em desfrutar o caminho e não em chegar ao término da nossa jornada. Não há muita gente interessada em saber a verdade embora muitos o digam que a procurem.

sábado, junho 21, 2008

anônimo

O anônimo aqui sou eu. Eu é que sou o indigente.

Eu é que não tenho nome, nem sei quem sou.

Minha mãe não tinha nome e meu pai nem sei quem é. Nem ele sabe quem eu sou.

Minha terra me viu nascer, mas como o ventre de minha mãe, me renegou e expulsou.

Meu bairro não me sorri. Meu vizinho, não olha para mim.

Olá é palavra cara. Bom dia também. Aliás, palavra é palavra cara.

Mulher não sabe quem sou. E se eu sei o que é mulher, não sei o que é o amor.

A bala sabe bem quem sou, mas não sabe quem mata.

Anónimo, é o que sou.

Quem sou eu? Ninguém!

sexta-feira, junho 20, 2008

jardim

Amigo? Qual amigo!?
Eu cá não tenho amigos no jardim das tabuletas, e aqueles que para lá se mudaram, de lá não regressam.

óbito

Leio por vício. Escrevo por óbito.

quinta-feira, junho 19, 2008

às mulheres

"Tem sempre presente que a pele se enruga, o cabelo embranquece, os dias convertem-se em anos...
Mas o que é importante não muda;
A tua força e convicção não têm idade.
O teu espírito é como qualquer teia de aranha.
Atrás de cada linha de chegada, há uma de partida.
Atrás de cada conquista, vem um novo desafio.
Enquanto estiveres viva, sente-te viva.
Se sentes saudades do que fazias, volta a fazê-lo.
Não vivas de fotografias amarelecidas...
Continua, quando todos esperam que desistas.
Não deixes que enferruje o ferro que existe em ti.
Faz com que em vez de pena, te tenham respeito.
Quanto não conseguires correr através dos anos, trota.
Quando não consigas trotar, caminha.
Quando não consigas caminhar, usa uma bengala.
Mas nunca te detenhas!!!"

Madre Teresa de Calcutá

idades...

... e beleza

"Há uma certa idade em que uma mulher tem de ser bonita para ser amada.
E há outra em que tem de ser amada para ser bonita."

Françoise Sagan

quarta-feira, junho 18, 2008

não ser

Claro que posso não ser assim. Mas nesse caso não seria eu.

terça-feira, junho 17, 2008

gostávamos?

gostávamos das palavras, do silêncio, de tudo aquilo que nos rodeava e nos enfatizava.
gostávamos das canções, dos erros e desaires que cada um cometia,... prometia.
gostávamos das cores, das luzes, da escuridão, do medo que nos aproximava, da coragem que nos fazia seguir.
gostávamos da vida e da morte, do que parecia ser sorte, existir e acabar como fado.
Mas gostávamos de nós?

domingo, junho 15, 2008

buracos

“Olha mãe! Um conjunto de buracos amarrados com baraço.”

Só mesmo o olhar descomplexado de uma criança para ver numa rede não o cheio mas o vazio.
O olhar inteligente e treinado não se limita às formas positivas mas vislumbra também os vazios.

sexta-feira, junho 13, 2008

partiste

Lá fora o tempo passa E cada dentro tudo é igual, Tudo é diferente e só tu partiste.

Mudaste de rua e não disseste, E aquela carta nem a escreveste. Eu fiquei cá deste lado Tudo é diferente e só tu partiste.

Tudo é diferente, tudo é igual E só se sente o que é banal.

Há dias banais, há dias assim Dias iguais, dias sem fim

quarta-feira, junho 11, 2008

aprender

Por estes dias de Agosto, por dias de Alcobaça, aprendi a escrever a palavra inveja, o sabor de cada uma das suas letras.
Aprendi porque é mais importante Iago, que Otelo.
Aprendi que temos mais cá dentro do que aquilo que queremos ver.
Por muito frio que sejas, o verde vai-te roer.

segunda-feira, junho 09, 2008

OZ: coragem

-Não passas de um grande cobarde - argumentou ela.
-Eu sei, sempre o soube, mas não o posso evitar - disse o Leão, envergonhado.

(...)

-E a minha coragem? - perguntou, ansioso, o Leão.
-De certeza que já estás cheio de coragem, só precisas de confiança em ti próprio. Não há ser vivo que não tenha medo quando enfrenta o perigo, a verdadeira coragem está em enfrentar o perigo quando temos medo, e essa coragem tens de sobra - respondeu Oz.



O feiticeiro de Oz, de Frank Baum

OZ: coração


-E então o meu coração? - perguntou o Lenhador de Lata.

-Quanto a isso, acho que estás errado em quereres um coração, faz a maior parte das pessoas infelizes. Se soubesses, tens sorte de não teres coração - respondeu Oz.


O Feiticeiro de Oz, de Frank Baum

sábado, junho 07, 2008

primeiros

-mas ele chegou primeiro...
- não estamos a falar de um lugar de estacionamento, pois não!?

quinta-feira, junho 05, 2008

sorte...

"-qual é a sorte, sobre a terra,
de quem teve de nascer?"
cantico dos Cacuanas in As minas de Salomão de Rider Haggard , na tradução de Eça e Queirós