segunda-feira, outubro 30, 2006

caixas de cartão


Mudança de casa... para uma casa ainda em obras. Nunca há tempo, mas há sempre obras. Ainda não acabamos de fechar umas gavetas e já estamos a abrir outras. E o resultado, não podia ser outro senão uma profunda desordem, mas à qual acabo por já me ir habituando. Vamos arrumando as coisas como podemos. Pegamos nas nossas tralhas, nas nossas histórias de vida, pegamos nas nossas marcas,nas nossas vitórias, nas nossas feridas, enfim, em tudo aquilo que nós faz aquilo que somos hoje. Pegamos num pouco de nós e primeiro embrulhamos em papel de jornal, como uma qualquer coisa frágil, e depois guardamos numa caixa de cartão.

Há quem de facto tenha muito jeito... para isto. Para se retalhar e guardar pedaços de si em caixas. Isto vai para aqui, aquilo vai para ali e isto, finalmente este fica mesmo naquela caixa de cartão daqueles velhos ténis que comprei no ano passado. Assim as coisas não se cruzam, não se pegam, não colidem umas com as outras.

Eu no entanto nunca tive esse dom. Tenho sempre tudo espalhado pelo chão de minha casa, a roupa, os papéis, os livros, num grande puzle, numa confusão anárquicamente organizada, da qual só eu tenho a chave para a desodificar... e às vezes nem sempre. De noite de haver alguém que à socapa e de mansinho para não me acordar, entre em minha casa e re-baralhe os objectos, de forma a que eu de manhã tenha sempre que conferir e ver se ainda entendo a (des)ordem geral do meu mundo.
Nos entretantos, de uma forma melhor ou pior, vou-me entendendo assim, vou gerindo este caos, talvez à espera não sei de que, não sei de quem, nem sequer quando. Talvez de encontrar uma chave qualquer de forma a que tudo faça sentido.

Talvez por isso me seja dificil arrumar tudo em caixas, fechar gavetas. Talvez porque eu tenha sempre a sensação de estar prestes a descobrir uma chave, uma equação, uma fórmula segundo a qual tudo faria sentido, mas essa ordem mágica, invariávelmente está sempre errada, ou pelo menos imcompleta.

Mas para mudarmos, para (re)começarmos tudo de novo(e ninguém começa tudo de novo), temos que desfazer este puzle incompleto, fechar as gavetas, arrumar tudo em caixas e etiquetá-las devidamente, talvez se calhar para nunca mais as abrirmos.
Acaba por ser uma maneira de seguir em frente, mas... arrumar a vida em caixas de cartão?

1 comentário:

dream_brother disse...

eu costumo chamar-lhe prateleiras;)...ond tudo fica arrumado...até um novo recomeço...e sigo em frente...o q na quer dizer q em alguns dias, pelo menos em pensamento, n olhe para lá...para a prateleira...mas tb q é q digo para aqui...tudo isto já tu sabes!

gostei;)