segunda-feira, outubro 30, 2006

uma janela para a rua


E uma casa nova significa uma vista nova, uma perspectiva modificada do mundo. Ou se calhar até acaba por ser a mesma, ligeiramente diferente, ligeiramente desfocada, ligeiramente retocada.
Donde estou abro uma janela. Não interessa bem de que tipo, se de guilhotina ou de batente, se de sacada ou de peito, ou mesmo uma serliana ou até uma termal. Gostava que fosse uma janela de conversação, como aquelas que a gente vê nos mosteiros, antigas, com acentos para duas pessoas, com segredos guardados nas pedras dos umbrais, próprias de quem ouve e cala. Mas ia ser sempre uma conversação solitária.

Debruço-me então sobre a janela. De facto, a paisagem não é assim tão diferente. Podemos mudar de lugar, mas o mundo só gira sobre si mesmo, e ignora-nos, como se ignora a quem é realmente insignificante.
A paisagem é a mesma paisagem banal. Nem as cores são Technicolor e brilhantes, nem os cães ladram afinados em Dó maior, nem os gelados sabem mais a chocolate, nem a relva é mais suave, nem as flores cheiram melhor...

A porta de trás dá para um outro lugar, e a paisagem não é assim tão diferente. Talvez fosse pedir um pouco demais, que com uma simples janela tudo mudasse, tudo se resolvesse. Talvez uma nova vista despertasse algo novo, mas também nem tudo é tão bom, nem tudo é tão mau.
Até gosto deste novo quadro, desta nova janela. Vou aqui ficar enquanto a noite cai, à espera que surjam primeiras estrelas no tecto celeste.
Mas eu até gostava mesmo era que fosse uma janela de conversação, era pena...

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