sábado, dezembro 09, 2006

voador

voador s. m.,
acrobata que salta de um trapézio para outro, mais ou menos distante



Já não faço o número do trapézio voador…

Quando estamos no trapézio voador, ganhamos asas. Perdemos o peso, as amarras à terra. Lá em baixo, distante, fica o mundo, cá em cima voamos… baixinho, e por breves momentos, mas voamos. Todo o voo é curto, mas quando suspensos no ar, o tempo parece suspender-se também, e lá em baixo, e cá em cima, e em todo o redor, tudo fica imóvel.
Quando nos atiramos no vazio do espaço, a confiança que depositamos no outro é cega. Acreditamos sempre. Só podemos acreditar, senão não nos atirámos, senão não voamos, senão… não há número do trapézio voador.
Quando agarramos as mãos do outro, somos os donos do mundo, somos senhores daquela alma que se nos entrega, que nos estende a mão, de quem sentimos a pele, o suor, a palpitação.
Quando pelo contrário, é a mão do outro que nos agarra, sentimos medo mas também confiança. Sentimos que todo o mundo se condensa ali, naquele contacto, ténue e firme, breve e eterno. Sabemos que aquela mão que nos agarra é tudo para nós, como no início, e como no fim.
Quando sentimos a as mãos a escorregar…

Passei três meses no hospital dos ossos quebrados. O chão realmente é duro, ainda que não o pareça lá de cima. E o corpo estilhaça quando em contacto com a terra.
A minha família, os meus amigos preocuparam-se imenso comigo, não sabiam se eu recuperava, ainda que os médicos os assegurassem do contrário, temiam sempre pela minha saúde, física e mental.
Agora já saí, já curei as feridas do corpo, mas não as da alma. Por agora apenas vejo os outros a voar baixinho. Tenho medo.
Agora já não faço o número do trapézio voador… por enquanto.

1 comentário:

dream_brother disse...

vais acabar por voar outra vez...e cair...é o q sempre acontece...a todos...mas sabe tao bem voar;)

é verdade, ganda post...na é já novidade, mm assim é do melhor q tenho lido!

abraço:)