sexta-feira, dezembro 12, 2008
uma sociedade perfeita
"o futebol é o ideal de uma sociedade perfeita: poucas regras e claras, simples, que garantem a liberdade e a igualdade dentro do campo, com a garantia do espaço para a competência individual"
Mario Vargas Losa
sexta-feira, novembro 21, 2008
quarta-feira, novembro 19, 2008
palavras
Primeiro porque são falsas. E depois porque não me acredito nelas.
Façamos uma espécie de pacto: Dizes o que queres, e eu acredito no que quero. Do que decorre no entremeio, ou seja, nas palavras que trocamos, a coerência pouco interessa.
Por isso, o que valem as palavras que proferes?
terça-feira, novembro 11, 2008
receita para matar um homem
Receita para matar um homem
Tomam-se umas dezenas de quilos de carne, ossos e sangue, segundo os padrões adequados. Dispõem-se harmoniosamente em cabeça, tronco e membros, recheiam-se de vísceras e de uma rede de veias e nervos, tendo o cuidado de evitar erros de fabrico que dêem pretexto ao aparecimento de fenómenos teratológicos. A cor da pele não tem importância nenhuma.
Ao produto deste trabalho melindroso dá-se o nome de homem. Serve-se quente ou frio, conforme a latitude, a estação do ano, a idade e o temperamento. Quando se pretende lançar protótipos no mercado, infundem-se-lhes algumas qualidades que os vão distinguir do comum: coragem, inteligência, sensibilidade, carácter, amor da justiça, bondade activa, respeito pelo próximo e pelo distante. Os produtos de segunda escolha terão, em maior ou menos grau, um ou outro destes atributos positivos, a par dos opostos, em geral predominantes. Manda a modéstia não considerar viáveis os produtos integralmente positivos ou negativos. De qualquer modo, sabe-se que também nestes casos a cor da pele não tem importância nenhuma.
O homem, entretanto classificado por um rótulo pessoal que o distinguirá dos seus parceiros, saídos como ele da linha de montagem, é posto a viver num edifício a que se dá, por sua vez, o nome de Sociedade. Ocupará um dos andares desse edifício, mas raramente lhe será consentido subir a escada. Descer é permitido e por vezes facilitado. Nos andares do edifício há muitas moradas, designadas umas vezes por camadas sociais, outras vezes por profissões. A circulação faz-se por canais chamados hábito, costume e preconceito. É perigoso andar contra a corrente dos canais, embora certos homens o façam durante toda a sua vida. Esses homens, em cuja massa carnal estão fundidas as qualidades que roçam a perfeição, ou que por essas qualidades optaram deliberadamente, não se distinguem pela cor da pele. Há-os brancos e negros, amarelos e pardos. São poucos os acobreados por se tratar de uma série quase extinta.
O destino final do homem é, como se sabe desde o princípio do mundo, a morte. A morte, no seu momento preciso, é igual para todos. Não o que a precede imediatamente. Pode-se morrer com simplicidade, como quem adormece; pode-se morrer entre as tenazes de uma dessas doenças de que eufemisticamente se diz que “não perdoam”; pode-se morrer sob a tortura, num campo de concentração; pode-se morrer volatilizado no interior de um sol atómico; pode-se morrer ao volante de um Jaguar ou atropelado por ele; pode-se morrer de fome ou de indigestão; pode-se morrer também de um tiro de espingarda, ao fim da tarde, quando ainda hà luz de dia e não se acredita que a morte esteja perto. Mas a cor da pele não tem importância nenhuma.
Martin Luther King era um homem como qualquer de nós. Tinha as virtudes que sabemos, certamente alguns defeitos que não lhe diminuíam as virtudes. Tinha um trabalho a fazer – e fazia-o. Lutava contra as correntes do costume, do hábito e do preconceito, mergulhado nelas até ao pescoço. Até que veio o tiro de espingarda lembrar aos distraídos que nós somos que a cor da pele tem muita importância.
José Saramago
Quem quiser lê-la, e a outras, podem ir directamente à fonte aqui.
lotação esgotada
Desculpe mas não há lugar. Estamos cheios. Não há cá ninguém, mas quem sabe se apertarmos um bocadinho... talvez dê, ou talvez não.
Volte amanhã. Pode ser que estejamos mais vagos.
domingo, novembro 02, 2008
quarta-feira, outubro 29, 2008
corpo
gosto do meu corpo quando está com o teu
corpo. É uma coisa tão integralmente nova.
Melhores músculos e mais nervos.
gosto do teu corpo. gosto do que ele faz,
gosto dos seus modos. gosto de sentir-te a coluna
e os ossos, e o tremor
-sólido-macio que beijarei
uma e outra vez,
gosto de beijar-te aqui e ali,
gosto de acariciar lentamente, a pelugem
da tua pele eléctrica, e aquilo que acontece
ao romper da carne… E os olhos grandes migalhas de amor,
e talvez goste do frémito
por baixo de mim de ti tão completamente nova
like my body when it is with your
body. It is so quite new a thing.
Muscles better and nerves more.
i like your body. i like what it does,
i like its hows. i like to feel the spine
of your body and its bones, and the trembling
-firm-smooth ness and which i will
again and again and again
kiss, i like kissing this and that of you,
i like, slowly stroking the, shocking fuzz
of your electric furr, and what-is-it comes
over parting flesh....And eyes big love-crumbs,
and possibly i like the thrill
of under me you so quite new
e. e. cummings, «Complete Poems, 1904-1962», Sonnets-Realities, VII, de & [AND], 1925
quinta-feira, outubro 23, 2008
noites brancas
Tolstoi, in "Anna Karenina"
A felicidade é universal,... mas as tragédias são privadas.
domingo, setembro 28, 2008
fim
rompam aos saltos e aos pinotes,
façam estalar no ar chicotes,
chamem palhaços e acrobatas!
que o meu caixão vá sobre um burro
ajaezado à andaluza...
a um morto nada se recusa,
eu quero por força ir de burro.
“Mário de Sá-Carneiro„
domingo, setembro 14, 2008
sexta-feira, setembro 12, 2008
quarta-feira, setembro 10, 2008
segunda-feira, setembro 08, 2008
abrir parênteses
* retomamos a emissão dentro de momentos**
** sim. quem diz emissão quer dizer vida ***
*** a minha pois claro.
fechar parênteses...
quarta-feira, setembro 03, 2008
de volta ao...
e de volta à pergunta original... meio cheio ou meio vazio?
e uma resposta que foge às duas opções:
O copo tem é o dobro do tamanho necessário...
sábado, agosto 30, 2008
verdades
Todas as mentiras são verdades... é só dizeres.
quarta-feira, agosto 27, 2008
vocações
terça-feira, agosto 26, 2008
domingo, agosto 17, 2008
sábado, agosto 16, 2008
sexta-feira, agosto 15, 2008
má-mórias
Vladimir Nobokov
e eu diria mais...
quanto mais...
... mais ela se torna tirana.
... mais ela se afasta da realidade.
... mais ela nos desvanece e goza de nós.
quinta-feira, agosto 14, 2008
relógio
quarta-feira, agosto 13, 2008
terça-feira, agosto 12, 2008
copo...
segunda-feira, agosto 11, 2008
domingo, agosto 10, 2008
definições do amor (vii)
sábado, agosto 09, 2008
sexta-feira, agosto 08, 2008
definições do amor (v)
quinta-feira, agosto 07, 2008
quarta-feira, agosto 06, 2008
terça-feira, agosto 05, 2008
segunda-feira, agosto 04, 2008
"love is..." ou definições do amor (i)
pois é Pedro, mas antes de nascer nada pode ser definido.
Sete dias, sete definições. Para começar a letra que tu mesmo lançaste, e no entanto mesmo assim acho que vamos ficar como no final da letra desta música: sem definição.
definição do amor.
"O que é o amor?
Definição de amor, porque eu não entendo…
Eu não percebo…
Yeah!
Escuta!
Não consigo perceber, chama-se amor
Dizem, bom sentimento, mas vejo provocar dor
Comparam com felicidade, outros com uma alhada
Nunca ouvi falar de amor sem um lágrima derramada
E Desejam / planejam, ser Romeu e Julieta
No entanto nesta história, esquecem uma faceta
Tragédia no final, o amor tem um problema
Não são apenas palavras bonitas de um poema
É um sentimento complexo, difícil de perceber
Causador de sofrimento ou boa razão para viver
Eu não entendo, haverá definição?
Se existe quero saber para completar a canção
Quis tentar perceber, pesquisei o que é amor
Num poema percebi, é sinónimo de dor
Noutro percebi, é gostar muito de alguém
E ao pesquisar percebi a ambiguidade que tem
Segundo Platão, perigosa doença mental
Tantos os significados, o que o amor afinal?
Causador de insónias, causador de tristeza
Cura de todos males, mas também pior doença
Segundo Ghandi a força mais subtil do mundo
Capaz de deixar qualquer um vagabundo
E com tantas definições, tanta confusão
Vou tentar percebe-las para concluir a canção!
É sentimento característico de humanos
Palavra mitológica antiga de RomanosA
mor é como a guerra, fácil de começar,
Mas também.. acredita, difícil de terminar
Dizem que é eterno, haverá como provar?
Este não se entende, não há como explicar...
Sentimento inexplicável, mas existente.
Difícil de perceber, haverá quem entende?
Não há definição "
Dama Bete
sexta-feira, agosto 01, 2008
falha involuntária
Talvez de uma súbita falha do universo, talvez de um erro, nunca de um acto de vontade.”
M. Duras
quarta-feira, julho 30, 2008
carta de desamor
E eu já não te amo a ti.
Eu já não amo a vida e tudo o resto.
Tudo tem um fim quando chega a morte, do mundo, do tempo, do meu tempo, da minha vida.
Quando chega o fim de tudo o que existe para mim, todas as figuras se apagam, todas as palavras se esvaziam.
E é isso que és para mim, uma imagem, uma palavra, uma recordação, um interruptor que se apaga.
E contigo, eu, o mundo e tu.
Já não te amo.
terça-feira, julho 29, 2008
sexta-feira, julho 25, 2008
segunda-feira, julho 21, 2008
sábado, julho 19, 2008
sexta-feira, julho 18, 2008
Patologias
Mª Filomena Mónica, in entrevista ao DNA 7-5-4
quarta-feira, julho 16, 2008
nota de rodapé
* Nota de rodapé - assunto que por si só, se aprofundado, daria para toda uma monografia, mas que no caso em questão será apenas alvo de uma pequena referência.
terça-feira, julho 15, 2008
what ever happened?
sábado, julho 12, 2008
conhecer-se
Italo Calvino, “O Barão Trepador”
sexta-feira, julho 11, 2008
quinta-feira, julho 10, 2008
acasos
Milan Kundera – “A Insustentável Leveza do Ser”
domingo, julho 06, 2008
sexta-feira, julho 04, 2008
onde estás?
Não te sinto...
Não te vejo...
Onde estás?
Não te sinto...
Não te ouço...
Sei apenas
que te desejo,
mais um pouco,
mais um pouco.
Faz-me sentir feliz,
outra vez,
mais uma vez.
Faz-me sentir feliz,
mais um pouco,
como louco.
Faz-me surdo,
faz-me mudo,
mas faz-me sentir feliz.
Faz-me cego,
faz-me louco,
Tudo isso é tão pouco
pois não posso viver sem ti.
quarta-feira, julho 02, 2008
terça-feira, julho 01, 2008
abandono
Eça de Queirós, in “Os Maias”
segunda-feira, junho 30, 2008
sexta-feira, junho 27, 2008
guerra
É pela guerra.
Só pela guerra é que nos purificamos.
Só com o sangue, vertido e escorrido dos nossos corações, lavaremos todo o sofrimento das nossas almas.
Só a dor, e nada mais que a dor, poderá arrebatar estes profundos e transtornados gritos.
Só a guerra.
Só estes nossos Armagedons privados saciam esta ânsia de não existência.
O fogo que nos possui incendiará os céus e devorará as nossas próprias sombras como se de nós próprios nos tratássemos.
Reduzidos a cinzas e pó, erguer-se-ão então as nossas essências e as nossas substâncias, sob a promessa de nunca fazermos as pazes.
quarta-feira, junho 25, 2008
precedentes
segunda-feira, junho 23, 2008
mitómano
O amor perfeito, esse então é a sublimação do amor, a utopia maior como se já não estivesse na sua semente a génese da ilusão.
Somos Homens. Possuímos corpos imperfeitos que vivem num mundo imperfeito. Como podemos porventura ambicionar vislumbres da perfeição ou mesmo de algo tão grandioso como o amor da forma que este é cantado pelos poetas?
Desiludam-se. Tivéssemos a sorte de porventura atingir momentaneamente esse deslumbramento e porventura viveríamos o resto das nossas simples vidas presos a esse passado, a essa suprema verdade, e porventura viveríamos tristes, melancólicos, nostálgicos da perfeição que outrora logramos, ainda que apenas fugazmente, alcançar.
Não se enganem. Vivemos paixão, volúpia e outros que tais. Entregamo-nos às preces de nosso corpo e nossa alma. Satisfazemos a nossa fome e a nossa sede. Encontramos abrigo e alento no regaço de alguém. Traímos desavergonhadamente a nossa perfeita -ou será imperfeita? - unidade e cobardemente procurámos a ajuda de alguém como se não fossemos suficientemente fortes para nos aguentarmos sozinhos.
Mas isso passa. Toda a gente sabe que passa. E se não passa é porque estás doente. Tira já isso da cabeça, nem que para tal seja necessário abrir-ta a meio e arrancar a ferros esse mal que te aflige.
Talvez sejas afinal um daqueles tristes tolos de que falei há pouco. Sabes, quando a luz é tanta os olhos cegam. É mesmo assim, os olhos não foram feitos para contemplar tanta luz. E as tuas asas, as tuas asas, meu caro Ícaro tem cuidado, pois essas não foram feitas para alcançarem a abóbada celeste.
Senta-te. Sossega. És homem e por homens foste feito. Do barro dizem que Ele nos criou e que ao pó havemos de voltar.
Querias pois então que essa vulgares carcaças atingissem os desígnios reservados aos desuses?
Repara como é o mundo. A beleza da borboleta desperta a cobiça de toda a restante Natureza, mas porém apenas subsiste um dia. Depois, efémera, ela desaparece. A perfeição neste mundo imperfeito tem um preço. A questão é se afinal estás disposto a pagar o preço daquilo que tanto buscas ou dizes buscar?
Sabes que às vezes o verdadeiro saber está em desfrutar o caminho e não em chegar ao término da nossa jornada. Não há muita gente interessada em saber a verdade embora muitos o digam que a procurem.
sábado, junho 21, 2008
anônimo
Eu é que não tenho nome, nem sei quem sou.
Minha mãe não tinha nome e meu pai nem sei quem é. Nem ele sabe quem eu sou.
Minha terra me viu nascer, mas como o ventre de minha mãe, me renegou e expulsou.
Meu bairro não me sorri. Meu vizinho, não olha para mim.
Olá é palavra cara. Bom dia também. Aliás, palavra é palavra cara.
Mulher não sabe quem sou. E se eu sei o que é mulher, não sei o que é o amor.
A bala sabe bem quem sou, mas não sabe quem mata.
Anónimo, é o que sou.
Quem sou eu? Ninguém!
sexta-feira, junho 20, 2008
jardim
Eu cá não tenho amigos no jardim das tabuletas, e aqueles que para lá se mudaram, de lá não regressam.
quinta-feira, junho 19, 2008
às mulheres
Mas o que é importante não muda;
A tua força e convicção não têm idade.
O teu espírito é como qualquer teia de aranha.
Atrás de cada linha de chegada, há uma de partida.
Atrás de cada conquista, vem um novo desafio.
Enquanto estiveres viva, sente-te viva.
Se sentes saudades do que fazias, volta a fazê-lo.
Não vivas de fotografias amarelecidas...
Continua, quando todos esperam que desistas.
Não deixes que enferruje o ferro que existe em ti.
Faz com que em vez de pena, te tenham respeito.
Quanto não conseguires correr através dos anos, trota.
Quando não consigas trotar, caminha.
Quando não consigas caminhar, usa uma bengala.
Mas nunca te detenhas!!!"
Madre Teresa de Calcutá
idades...
"Há uma certa idade em que uma mulher tem de ser bonita para ser amada.
E há outra em que tem de ser amada para ser bonita."
Françoise Sagan
quarta-feira, junho 18, 2008
terça-feira, junho 17, 2008
gostávamos?
Já gostávamos das canções, dos erros e desaires que cada um cometia,... prometia.
Já gostávamos das cores, das luzes, da escuridão, do medo que nos aproximava, da coragem que nos fazia seguir.
Já gostávamos da vida e da morte, do que parecia ser sorte, existir e acabar como fado.
Mas gostávamos de nós?
domingo, junho 15, 2008
buracos
sexta-feira, junho 13, 2008
partiste
Mudaste de rua e não disseste, E aquela carta nem a escreveste. Eu fiquei cá deste lado Tudo é diferente e só tu partiste.
Tudo é diferente, tudo é igual E só se sente o que é banal.
Há dias banais, há dias assim Dias iguais, dias sem fim
quarta-feira, junho 11, 2008
aprender
Aprendi porque é mais importante Iago, que Otelo.
Aprendi que temos mais cá dentro do que aquilo que queremos ver.
Por muito frio que sejas, o verde vai-te roer.
segunda-feira, junho 09, 2008
OZ: coragem
OZ: coração
sábado, junho 07, 2008
primeiros
- não estamos a falar de um lugar de estacionamento, pois não!?
quinta-feira, junho 05, 2008
sorte...
segunda-feira, maio 05, 2008
domingo, maio 04, 2008
também... não
-Não, que eu não padeço dessas desgraças... pelo menos de crónicas e agudas desgraças. Só das acidentais, naturalmente passageiras, pois claro.
vermelho veludo
terça-feira, abril 29, 2008
Vende-se
vendo a minha.
Só atrapalha, confunde, dificulta, baralha.
É difícil aturá-la.
Dispenso,
passo bem sem moral, sem ideais, pois ninguém os tem.
Se o dizem que os tem, mentem,
pois se os tivessem já os teriam vendidos.
Mas como um ideal não tem valor se não ideal, e como eu, nem ninguém quer ideais...
Eu tinha ideais,
achava, pensava, enganava-me.
Só os tinha para os vender, os infringir e subverter.
Mais vale não ter,
vou vende-los,
aos meus ideais e à minha moral.
Mas, e agora, serei amoral ou imoral?
Afinal vendi os meus ideais.
98.02.25.22.15.52
segunda-feira, abril 28, 2008
angústias
Sêneca
domingo, abril 27, 2008
prisão em si
Sou um corpo. Apenas um corpo. Tudo o que tem de ser feito, que pode ser feito, tem de ser feito dentro deste corpo.”
Lars Gustafson, “A morte de um Apicultor”
quinta-feira, abril 24, 2008
não há livros abertos...
José Saramago, O Envangelho segundo Jesus Cristo
... só a beleza que queremos ver.
segunda-feira, abril 21, 2008
farsa
As emoções extremas são sempre duvidosas já que nos confundem todas as outras...
Aquilo que tínhamos por certo de repente já não é tão certo.
Um homem desesperado é certamente perigoso para os que o rodeiam, mas principalmente para si. Um homem desesperado é um homem com uma fuga na alma...
Tenho um grande homem preso numa alma medíocre...
quinta-feira, abril 17, 2008
quarta-feira, abril 16, 2008
enterrar
os fantasmas demoram mais tempo, mas também se enterram.
terça-feira, abril 15, 2008
trovão, mente perfeita
Sou aquela que é venerada e aquela que é vilipendiada.
Sou a meretriz e a santa.
Sou a esposa e a virgem (...)
Sou a estéril,
E inúmeros são os filhos que ela tem...
Sou o silêncio que é incompreensível (...)
Sou o proferir do meu nome.
Eu sou a mãe e a filha.
Eu sou conhecimento e ignorância.
Eu sou desavergonhada,
Eu sou envergonhada.
Eu sou força, e eu sou medo.
Eu sou néscia e eu sou sábia.
Eu não tenho Deus e sou alguém cujo Deus é grande.
texto gnóstico de Nagh-Hammadi
segunda-feira, abril 14, 2008
ir e voltar
José Saramago in "O Memorial do Convento"
terça-feira, abril 08, 2008
...e não tocar
José Saramago in "A Jangada de Pedra"
o toque...
Rui Zink, in “Apocalipse Nau”
segunda-feira, abril 07, 2008
cores interditas
domingo, abril 06, 2008
primeiro dia
A terra era informe e vazia. As trevas cobriam o abismo
e o Seu espírito movia-se à superfície das àguas.
E disse: "Fzça-se Luz". E a luz foi feita.
Viu que a luz era boa e separou a luz das trevas.
À luz chamou dia e às trevas chamou noite.
Assim surgiu a tarde e, em seguida a manhã:
Foi o primeiro dia.
A principio é simples, anda-se sózinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no borborinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado, que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso, por curto que seja
apagam-se dúvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar, sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
E entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vazia
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.
Sérgio Godinho - "o primeiro dia"
hoje é o primeiro dia do resto das tuas vidas.
sábado, abril 05, 2008
sexta-feira, abril 04, 2008
sábado, março 29, 2008
choose...
But I look for you all the time
I choose to run
But I'm begging for you to come
I wanna break
But I know that you can take
I stay a while
To be sure that you're by my side
(...)
I choose to find
Things that you left behind
I choose to stare
But I can take you anywhere
I wanna stay
But my soul leaves you anyway
Can close the door
And love, could you give me more
from "Choose love" - Rita Redshoes
amarras
Vamos criando laços, amarras que nos prendem, mas que nos seguram em dias de intempérie. Mas uma amarra definitivamente não é um nó definitivo. São nós que nos prendem, mas também são nós que se deslaçam. E há amarras outras, que se cortam, que se rompem há força, de modo violento. Se bem que nunca soltamos as amarras todas... elas ficam sempre. Ou pelo menos a memória delas.
Mas, e se as amarras servem para amarrar... as asas servem para voar.
domingo, março 23, 2008
sábado, março 22, 2008
terça-feira, março 11, 2008
ponto a ponto
Na realidade, raramente, são por acaso.
Às vezes uma palavra, uma história, uma imagem.
Noutras vezes uma hora, uma data, um ponto...
Porque as coisas são assim... uma soma de tudo, como que ponto a ponto se vai construindo uma linha, nem sempre recta, muitas vezes curva. Umas vezes carregada, outras ao de leve, como quem faz cócegas no papel, mas sempre contínua, porque não para. Não pode parar.
quarta-feira, março 05, 2008
normalidade
...e os desvios não são necessariamente padrões.
domingo, fevereiro 24, 2008
relatividade
domingo, fevereiro 10, 2008
...set yourself on fire
"When there's nothing left to burn, you have to set yourself on fire."
"God that was strange to see you again
Introduced by a friend of a friend
Smiled and said 'yes I think we've met before'
In that instant it started to pour,
Captured a taxi despite all the rain
We drove in silence across Pont Champlain
And all of the time you thought I was sad
I was trying to remember your name...
This scar is a fleck on my porcelain skin
Tried to reach deep but you couldn't get in
Now you're outside me
You see all the beauty
Repent all your sin
It's nothing but time and a face that you lose
I chose to feel it and you couldn't choose
I'll write you a postcard
I'll send you the news
From a house down the road from real love...
Live through this, and you won't look back...
Live through this, and you won't look back...
Live through this, and you won't look back...
There's one thing I want to say, so I'll be brave
You were what I wanted
I gave what I gave
I'm not sorry I met you
I'm not sorry it's over
I'm not sorry there's nothing to save
I'm not sorry there's nothing to save..."
Stars - "Your Ex-Lover Is Dead"
sexta-feira, fevereiro 08, 2008
porque agora sou trintinho...
Ou o que as mulheres querem dos homens depois dos 30.
Laura olha pela janela do comboio e pergunta me o que há para além do rio. Respondo convicto: «O resto do país. E rio me por dentro com a minha piada de gosto duvidoso. Laura não ri da gracinha.
Aliás, Laura não ri. Nunca. Faz parte do seu show manter um eterno ar enigmático, como se estivesse sempre a acabar de ouvir uma grande verdade metafísica. Era esse inclusive um dos seus grandes problemas: ela levava se muito a sério e, consequentemente, a todos que conhecia. Ainda me lembro da noite em que derrubei uma banana flambada ainda acesa no seu vestido verde musgo em meio ao copo d'água de um casamento de um casal razoavelmente desconhecido. Por algum motivo, Laura não só não achou graça na coisa como ainda ficou uns dias sem falar comigo. 863 dias para ser mais exacto.
Falta pouco para chegarmos a Lisboa. Laura tem o semblante carregado, pergunta se o que deu errado. Se pelo menos ela verbalizasse a questão, eu poderia responder: "Nada, nada, nada". Ou «tudo, tudo, tudo (a verdade, às vezes, depende do freguês).Encontramo nos a primeira vez há muitos anos. Laura, por aquela altura, lembrava muito a jovem Nastassja Kinsky. Hoje em dia, é difícil saber. Há uma década que não vejo uma foto actualizada da bela Nasassja. Laura agora tanto pode parecer com ela como com uma tia distante da menina. Mas, sim, ainda é bonita.
Laura não casou nem teve filhos, atrapalhada que estava com os homens e com a vida (não necessariamente nessa ordem). Houve um tempo em que acreditou que estava apaixonada por mim, mas era um equívoco (eu, não a paixão). Mas isso era coisa do passado. Como quase todos os equívocos eram agora coisas do passado. Com quase 40 anos, Laura já não tinha tempo, nem líbido, para se equivocar com os homens. Laura agora tinha certezas: nenhum gajo presta, todas as mulheres são vítimas e homem nunca pisou na Lua.
Laura espeta me com um olhar de reprovação. Pensa no tempo que perdeu comigo e tem vontade de bater me. Eu penso no tempo que perdi comigo e concluo que mereço apanhar até cair e me afogar numa poça do meu próprio sangue.
Eu tenho esse problema com as mulheres. Sempre acho que a culpa é minha. Mesmo que, na maior parte das vezes, apenas tenha reagido ao facto delas terem decidido ficar comigo. Entreguei me sempre fácil e docilmente para só algum tempo depois pedir o meu corpo de volta, alegando que precisava dele para trabalhar e fazer outras coisas (e olha que o corpo nem é lá grande coisa, embora já tenha acabado de pagar o leasing). Elas porém, sem nenhuma excepção, sentiram se sempre traídas e abandonadas por um pulha. Não é bem assim.
O caso da Laura, por exemplo. O sonho dela era casar com um fulano igual ao Fernando (que é casado com a Lígia, nossa amiga comum). Ela queria alguém tão atencioso como o Fernando; tão educado como o Fernando; tão simpático como o Fernando; tão Fernando como o Fernando. O problema é que eu não sou o Fernando (fora o próprio Fernando, ninguém é). Levei vários meses e muito verbo para convencer Laura disso. Até hoje ela acha que foi má vontade minha, que com um pouco de esforço eu chegava lá. Não chegava. Até porque não queria realmente ir a lado algum.«0 que as mulheres querem?, perguntava se Freud, entre uma e outra dose de ópio. As mulheres querem formatar os seus homens. Mas a vida não é bem assim. Ou elas apanham os tipos na mais tenra idade, quando ainda são meio bananas, ou podem esquecer da tarefa. Depois dos trinta e meios os homens congelam o carácter. No máximo, pioram no (melhorar, nem pensar). Daí que dificilmente um solteirão de trinta e tantos, daqueles que nunca deram o nó na vida (que nem mesmo dividiram o apartamento tempo suficiente com uma rapariga a ponto dela pendurar as suas cuequinhas para secar na torneira do duche) traia a classe e pare numa igreja ou notário para contrair o sagrado matrimónio.
E, amiga, é triste mas é verdade: os trintões solteirões são a raça mais difícil de laçar (mais que um rinoceronte embebido em Red Bull). Eles têm autonomia financeira, a vida encaminhada, têm manias domésticas, hábitos imutáveis e se já não reproduziram, não pensam mais no assunto. Tentar repaginar um trintão é o mesmo que tentar tapar o buraco da parede de uma represa com o dedo. Mais cedo ou mais tarde a coisa estoira e você vai na enxurrada.
Laura ouve tudo isso e mal consegue controlar a sua ira. Machista é o melhor elogio que me faz. Não sei sei se já percebeu, mas em matéria de homens as mulheres são meio autistas. Se somos sinceros, não nos ouvem e ameaçam fuzilar nos. Se mentimos, mais cedo ou mais tarde descobrem e fuzilam nos a mesma.Para minha sorte, o comboio chega à estação. Laura leventa se cinematograficamente e prepara se para ir embora. Mas antes pergunta me o que haveria para além daquela despedida. Respondo convicto: «O resto das nossas vidas.Laura, mais uma vez, não ri da gracinha...
Edson Athayde
http://www.truca.pt/arquivo/trintoes.html
Texto publicado no suplemento DNA do DN de 7 de Junho de 2003
domingo, fevereiro 03, 2008
domingo, janeiro 27, 2008
amores mal resolvidos
Metade deste povaréu sofre de Dor de Cotovelo.
Alguns trazem dores recentes, outros trazem uma dor de estimação, mas o certo é que grande parte desses rostos anônimos tem um Amor Mal resolvido, uma paixão que não se evaporou completamente, mesmo que já estejam em outra relação.
Por que isso acontece?
Tenho uma teoria, ainda que eu seja tudo, menos teórico no assunto. Acho que as pessoas não gastam seu amor. Isso mesmo. Os amores que ficam nos assombrando não foram amores consumidos até o fim.
Você sabe, o amor acaba. É mentira dizer que Não. Uns acabam cedo, outros levam 10 ou 20 anos para terminar, talvez até mais.
Mas um dia acaba e se transforma em outra coisa: lembranças, amizade,parceira, parentesco, e essa transição não é dolorida se o amor for devorado até o fim.
Dor de Cotovelo é quando o amor é interrompido antes que se esgote.
O amor tem que ser vivenciado. Platonismo funciona em novela, mas na vida real demanda muita energia sem falar do tempo que ninguém tem para esperar.
E tem que ser vivido em sua totalidade. É preciso passar por todas etapas: atração-paixão-amor-convivência-amizade-tédio-fim.
Como já foi dito, este trajeto do amor pode ser percorrido em algumas semanas ou durar muitos anos, mas é importante que transcorra de ponta a ponta, senão sobra lugar para fantasias, idealizações, enfim, tudo aquilo que nos empaca a vida e nos impede de estarmos abertos para novos amores.
Se o amor foi interrompido sem ter atingido o fundo do pote, ficamos imaginando as múltiplas possibilidades de continuidade, tudo o que a gente poderia ter dito e não disse, feito e não fez.
Gaste seu amor. Usufrua-o até o fim. Enfrente os bons e maus momentos, passe por tudo que tiver que passar, não se economize.
Sinta todos os sabores que o amor tem, desde o adocicado do início até o amargo do fim, mas não saia da história na metade.
Amores precisam dar a volta ao redor de si mesmo, fechando o próprio ciclo.
Isso é que libera a gente para Ser Feliz Novamente.
Arnaldo Jabor
(500)
quarta-feira, janeiro 23, 2008
hoje
As minhas, as nossas imagens de amor,
porque as coisas são como são:
no momento em que escrevo e no momento em que você lê,
abrimos esses arquivos de imagens geradas a partir do amor, que são
- vamos admiti-lo antes que seja tarde,
- os nossos arquivos prediletos.
Tudo o que realmente nos interessa está arquivado ali.
Na câmara escura das nossas recordações.
Imagens que vamos recolhendo vida afora.
Elas têm nome e uma história para contar, cada uma delas.
E nostalgia.
Nada mais é do que a saudade da emoção vivida,
num determinado momento que passou veloz.
Emoções e emoções e ainda tanta emoção a ser vivida!
Muito além dos indivíduos, além das particularidades.
E todas essas químicas se processando no nosso corpo,
pois há quem diga que amor nada mais é do que uma sensação provocada,
para evitar a loucura da espécie e perpetuar o predador.
Uma ilusão passageira, uma descarga de substâncias certas no sistema.
Lubrificação.
Cuidados com a máquina.
Seja lá o que for, andei tomando resoluções práticas para a existência.
Porque nunca mais nesta vida quero ter saudade de beijo.
Nunca mais a nostalgia daquele mundo de línguasdançando balé no céu das nossas bocas.
Nunca mais!
E juro que nunca mais nesta vida quero tentar entender o amor.
Quero deixar que ele passe por mim, como um pé de ventoque sopra folhas e poeira num arranjo aprumado.
Eu fico ali, no meio do redemoinho, só achando tudo muito bom.
Depois, o amor se vai e a gente continua a tocar a existência.
Assim é que deve ser.
Nunca mais nesta vida quero gente se indo. Já está de bom tamanho.
Coração da gente vai absorvendo os golpes:
que são muitos e de todos os lados, sempre.
Com quase todo mundo é assim.
De repente, as pessoas começam a ir embora, por morte matada e morrida,
por desamor, por tristeza, por ansiedade, por medos diversos,
seu coração vai recebendo as pancadas e uma hora dá vontade de dar um berro,
sair vomitando as mágoas todas que a gente foi engolindo.
Nunca mais gente partindo sem motivo aparente,
sem dar nome aos bois ou uma denúncia vazia.
Nesta vida, nunca mais!
E nunca mais, nesta breve passagem, a palavra não dita, o gesto parado no ar,
dissolvido antes do afago. Nunca mais a dose nossa de orgulho besta,
a solidão das noites perdidas por amor desenganado, o coração parado, à espreita.
Isso, não. Quanto mais o tempo passa, mais a urgência da felicidade ilusória
e da química do bem-estar, essas coisas todas que se operam em nossos íntimos.
Nunca mais.
Nunca mais um dia atirado ao nada,
nunca mais o verbo que não se completa,
todas as palavras que não foram ditas - verdades -, todas elas,
uma após a outra, formando frases, pensamentos, sentimentos,
amor costurando o texto,
que é linha que não refuga de jeito nenhum.
Nunca mais!
O coração se magoando todo o dia,
a gente engolindo sapos e lagartos e se esquecendode que é capaz de mudar cada uma das histórias,
reescrever o livro das nossas vidas.
Uma hora mais cedo e a cena teria sido outra ou o que teria acontecido
se você não tivesse ido àquele lugar, àquela noite,
o universo conspirava contra nós, ou a nosso favor?
Quem é que vai nos explicar?
Ninguém. Ou alguém.
Miguel Falabela